Bastidores: em áudios, Landim admite ano ruim no Flamengo e confia em Tite para virada em 2024

A avaliação interna do futebol é de que a reformulação do elenco já aconteceu e que o índice de acerto nas contratações nos últimos cinco anos é alto - sobretudo nos maiores investimentos. Porém, entendem que os principais erros da gestão foram nas escolhas dos técnicos.

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O discurso sobre a tal reformulação em curso foi defendido por Landim na última segunda-feira em reunião com o grupo político União Rubro-Negra. O ge teve acesso ao áudio com as falas do presidente. (Leia abaixo na íntegra).

- Falar do futebol: esse foi um ano ruim. Futebol não é ciência exata em que dois mais dois é igual a quatro. Vamos tentando acertar dentro do possível, acho que batemos na trave algumas vezes esse ano. Acho que tivemos um processo natural de envelhecimento dos nossos jogadores. Tivemos a saída de dois deles (Filipe Luís e Rodrigo Caio), que foram muito importante nessa série de conquistas, mas a idade chega para todo mundo, e a gente precisa fazer esse processo de renovação. Processo que já vem sendo feito. Acho que talvez precise ser feito de uma forma mais intensa, mas já vem sendo feito - disse.

Landim usou uma comparação entre os jogadores presentes nas finais das Libertadores de 2019 e 2022 para defender seu argumento. Mas, vale destacar, que o Flamengo contratou Gerson em 2023, aumentando o número de nomes repetidos em relação ao jogo contra o River Plate em 2019. Sem contar que Bruno Henrique estava lesionado e desfalcou por quase um ano (entre junho de 2022 e abril de 2023).

- Eu vi a final de 2019 e tivemos 14 jogadores que entraram em campo. Na final de 2022, 15 jogadores entraram. Sabem quantos jogaram nos dois jogos? Quatro jogadores. O time mudou, a gente foi mudando. Tinha Gabriel, Arrascaeta, Filipe Luís e o Everton Ribeiro (...) Talvez se a gente fosse ouvir críticas, entre os cinco mais criticados, estariam os nomes do Cebolinha e do Pulgar. E hoje acho que dificilmente alguém estará infeliz com eles. O processo de adaptação às vezes demanda tempo - encerrou.

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Landim também usou o histórico, e não o que foi feito no último ano, para defender a política de contratações do departamento de futebol. Para 2023, o clube acertou a permanência de Ayrton Lucas e trouxe Gerson, que já havia defendido o clube em 2019 e 2020, além de Allan, Luiz Araújo e Rossi, que só chegaram no meio do ano. Gerson e Ayrton se consolidaram como titulares, e o goleiro ganhou sequência na reta final já com a chegada de Tite.

Para 2024, o Flamengo terá pelo menos quatro jogadores remanescentes de 2019: Gerson, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. O contrato de Everton Ribeiro se encerra neste mês e a permanência ainda não foi sacramentada. O desejo é mútuo, mas ainda não há acordo.

O Flamengo divide as movimentações de mercado em três categorias: alto investimento (a partir de 4 milhões de euros por direitos econômicos de jogador), baixo investimento (até 4,0 milhões de euros) e livres no mercado.

Na lista de jogadores de baixo investimento, Pablo Marí é visto como o grande acerto. O zagueiro foi contratado por pouco mais um milhão de euros, se consolidou como titular em 2019 e já rendeu mais de 10 milhões de euros para o clube. Algo semelhante ao que aconteceu com Gustavo Henrique, que o Flamengo contratou como agente livre e vendeu por 3 milhões de euros ao Fenerbahçe.

Há também jogadores que chegaram por empréstimo e não continuaram no clube: Bruno Viana, Pedro Rocha, Kennedy e Andreas Pereira. Todos tinham opção de compra, mas o Flamengo não ativou nenhuma das cláusulas. Na ocasião, o Flamengo chegou a acertar a permanência de Andreas por R$ 60 milhões, mas voltou atrás, o que rendeu uma saia justa com o Manchester United, então clube com o qual o jogador tinha contrato.

Os valores da tabela são referentes apenas aos direitos econômicos dos atletas e não incluem os gastos com salários e luvas. A folha salarial do clube em 2023 está na casa dos R$ 20 milhões mensais.

O departamento de futebol diagnosticou como o principal erro nos últimos anos: técnicos. Foram 10 técnicos de 2019 para cá, e a promessa de que Tite será o último treinador da gestão.

O Flamengo entende que acertou nas contratações de Jorge Jesus, Rogério Ceni, Renato Gaúcho, Jorge Sampaoli e está convicto em relação a Tite. A presença de Sampaoli na lista chama a atenção, principalmente depois da gestão do caso de agressão do preparador físico Pablo Fernández a Pedro.

A decisão pela permanência de Sampaoli naquele momento aconteceu como voto de confiança ao resultados em campo e a opção por tentar contornado o acontecido. Na época, eram 10 jogos sem perder até o episódio. Hoje, entendem que deveriam ter demitido o argentino logo depois do episódio.

A escolha por Dorival Júnior é vista como um ponto positivo e o clube mantém a não renovação de contrato como um acerto, ainda que a chegada de Vitor Pereira não tenha dado resultados. Com o técnico português, o Flamengo foi vice-campeão da Supercopa, perdeu a semifinal do Mundial e a final do Carioca.

Além de reconhecer o erro na contratação de Vitor Pereira, também trata como equívocos as escolhas de Domènec Torrent e Paulo Sousa, assim como o nome de Abel Braga para ser o primeiro técnico da gestão.

Dos 10 técnicos, apenas Abel Braga, Jorge Jesus, Rogério Ceni e Dorival Júnior foram campeões. Apesar de não ter conquistado qualquer título, a passagem de Renato Gaúcho levou o Flamengo até a final da Libertadores de 2021 e é bem elogiada nos bastidores. A pressão por conquista ainda não afeta Tite, que chegou ao clube como esperança para o futuro e com o objetivo de classificar o time diretamente para a fase de grupos da Libertadores.

A semana de reflexão colocou na balança erros e acertos para o planejamento do último ano dessa gestão no futebol. Pouco antes do Brasileirão acabar, as conversas para 2024 já foram iniciadas, e Tite participará de todos os processos.

O treinador será um dos líderes do planejamento que será discutido com Marcos Braz (vice-presidente de futebol) e Bruno Spindel (diretor executivo). Além da palavra final do presidente Rodolfo Landim. A cúpula do futebol, formada por Diogo Lemos, do Conselho, Fabinho e Juan, gerente de futebol e gerente técnico, também acompanhará de perto.

- Acho que a gente acertou a mão no técnico (...) O Tite é um meritocrata por excelência. E as pessoas que trabalham na equipe dele sabem que quem estiver melhor é que vai jogar. Acho isso muito importante. Pode ter o nome que for, mas se não tiver desempenhando não vai ser o cara que vai jogar. Ponto. E ele consegue fazer de uma forma que o grupo aceita e respeita. Se quer jogar, corre atrás. Tudo que deu certo na minha vida tinha meritocracia por trás. Acho que vamos entrar numa fase boa com ele - disse Landim na reunião.

As posições a serem reforçadas já estão definidas: laterais (direita e esquerda), volante, zaga e meia. Nicola De la Cruz é o principal nome para esta janela. O uruguaio, porém, não deve ser o único da posição a ser contratado. O Flamengo admite a possibilidade de ter mais um meia como reforço.

Entre erros e acertos, a gestão entra no último ano com promessa de altíssimos investimentos no mercado na esperança de apagar - ou minimizar - a única temporada sem qualquer taça desde 2016. Em 2024, o Flamengo disputará quatro competições: Carioca, Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil. Caso conquiste pelo menos um título, Landim vai se igualar a Márcio Braga como presidente que mais vezes foi campeão pelo clube, com 12 títulos.

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