Bap diz não se incomodar com rejeição da torcida do Flamengo e recorda contribuição na escolha por Jesus

Vice-presidente de relações externas do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, voltou a falar sobre os acontecimentos recentes do clube. Em entrevista à "ESPN", o dirigente disse, por exemplo, que não se incomoda com a rejeição demonstrada pela torcida (que levou a hashtag #ForaBAP aos trending topics do Twitter) após a demissão de Paulo Pelaipe.

- Acho que quem trabalhou com mídia como eu, por cinco anos, quem cumpre o papel que eu cumpro no Flamengo há algum tempo como eu, quem conhece o ambiente do Flamengo... Eu não me surpreendi. Se eu me incomodei? Nem um pouco. Eu tenho estrada, lido com isso com naturalidade. E entendo que isso foi uma expressão muito forte de algumas pessoas que, sem muitas informações, entendiam que isso significaria mudanças no Flamengo. Mudanças no sentido oposto do de 2019 - disse Bap.

"Quanto a isso, a torcida pode ficar tranquila. Estamos longe de querer mexer no que deu certo. A decisão do presidente é absoluta e soberana, e não cabe a nós ficar questionando. Para mim, foi absolutamente natural", completou.
Bap (o segundo da esquerda para a direita) na final da Libertadores conquistada pelo Flamengo em Lima — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Bap (o segundo da esquerda para a direita) na final da Libertadores conquistada pelo Flamengo em Lima — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Bap negou, também, qualquer vestígio de atrito com Marcos Braz, VP do Futebol do Flamengo. E recordou sua contribuição na contratação de Jorge Jesus no ano passado.

- Sobre o contrato do Jesus, obviamente que o Flamengo tem interesse na sequência, queremos que ele fique no Flamengo. Quando digo que o Bruno (Spindel) e o Marcos (Braz) é que negociam, é porque o Flamengo tem processos e perfis a serem cumpridos no dia a dia. Nada, absolutamente nada é decisão monocrática e isolada. Nada. Não foi na demissão do Abel, não foi na contratação do Jesus. Uma pessoa pode ter trazido, mas a avaliação foi de todos nós. Tanto que quando escolhemos o Jesus, eu estava em Madri. Nos reunimos com ele lá, apresentamos a proposta. Essa história de dizer "ah foi o BAP que segurou o Abel" é equivocada - alegou o VP.

- Vamos deixar muito claro que a saída foi decisão do Abel, ele que decidiu sair. E nós fomos atrás de outro nome, nós também fazemos esse acompanhamento com treinadores. Nada no Flamengo pode ser endemoniado ou endeusado quando se trata de futebol. Você não consegue ter uma pessoa só cuidando do futebol, não queremos isso. A gente entende que mais cabeças pensam melhor do que uma só. Dentro desse conceito, você tem o Bruno que negocia valores, tem o Marcos que lida com os atletas no dia a dia. E em cima da gente, tem o presidente - concluiu.

Bap também falou sobre diversos outros assuntos na entrevista. Confira as respostas abaixo, em tópicos:

Gabigol

"A gente não vai fazer nenhuma loucura em que a gente não possa embarcar. Então, eu como torcedor e como os 40 milhões de torcedores torço para que o Gabigol escolha ficar, e que isso tenha final feliz. Mas quem tem detalhes dessa situação são o Bruno (Spindel) e o (Marcos) Braz, que estão cuidando disso. Torço pra que tenha um final feliz"

Prazo para Jorge Jesus
- Por parte do Flamengo, não tem essa posição. Acho mais que o importante nessa questão é a data da janela europeia, se não me engano é 31 de janeiro. O que comanda esse processo e que está muito mais fora do controle do Flamengo e do próprio Jesus seria essa janela europeia.

Demissão do Pelaipe
- O que aconteceu, para quem estava em Doha, foi uma coisa bastante clara. Eu não tive participação na decisão da não renovação do Pelaipe, mas não posso negar que concordei porque os fatos eram realmente de difícil aceitação. Então eu apoio completamente a decisão do Landim. A decisão foi dele, ele que ficou de lidar com o assunto. Houve uma reunião importante em Doha com o pessoal do futebol, da qual eu não participei. Depois da reunião houve um jantar, e o Landim dividiu comigo alguma impressões. A decisão já estava tomada.

Pelaipe, Noval e Marcos Braz no Flamengo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Pelaipe, Noval e Marcos Braz no Flamengo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Discordâncias nos bastidores
- Acho importante que se diga que eu trouxe Pelaipe em 2012 e tive papel importante também no retorno dele em 2019. Acho que as pessoas confundem, o que se fala na imprensa ou redes sociais é 5, 10% do que realmente acontece no dia a dia do futebol. Eu não necessariamente concordo com tudo que está acontecendo. Existem discordâncias do dia a dia que são naturais, como as que se têm em casa com a família, esposa. Isso não tem absolutamente nada a ver com uma decisão como essa que foi tomada. Talvez as pessoas confundam um pouco. Especialmente nesse novo Flamengo. O Flamengo da gente é muito menos preocupado com pessoas e muito mais preocupado com processos, papéis e perfis. Depois disso é que vêm as pessoas. Dentro dessa filosofia, as pessoas, com todo respeito, são menores que o Flamengo. Nós trabalhamos em cima desses processos. Esse aprendizado é dinâmico, gera desconforto aqui e acolá. Nós tivemos um ano sensacional, quem tem um ano como que o Flamengo teve pode ter de tudo, menos discórdia. Quando a discórdia entra pela porta, as conquistas saem pela janela

Favorável a Abel, contra Jesus?
- Sua introdução foi absolutamente equivocada, nada disso corresponde à verdade. Eu até queria convidar os torcedores que quiserem entender como funciona o Flamengo a assistir um vídeo que gravamos que explica exatamente como funcionam as coisas, o que é obrigação de quem. São quatro vídeos. Todos esses quatro vídeos estão lançados no conselho de futebol do Flamengo. Falando de cada um dos blocos de futebol

Retaliações eleitorais

"Todo processo eleitoral do Flamengo deixa umas viúvas. Como essas viúvas não puderam falar nada no ano de 2019 com todas essas conquistas, eles esperaram a bola parar de rolar durante 20 dias para plantar tudo isso."

Relação com o Departamento de Futebol
- Eu te diria que são duas coisas separadas. Esse processo de ontem é totalmente ligado à eleição no Flamengo, pichação de muro e tal. Mas todas a escolhas do Flamengo no ano foram tomadas de forma colegiada. Mas não necessariamente concordamos em tudo. O que eu entendo é que algumas discordâncias podem ter vazado como se estivéssemos de lados opostos, mas tem um lado só. Nós estamos do lado do Flamengo. Se houvesse discórdia, o Flamengo não teria conquistado o que conquistou em 2019. Eu rebato isso de que a gente tem problemas. Problemas têm quem não tem água, quem não está brigando por nada. Graças a Deus os problemas que temos são de outra dimensão, de outro patamar (risos).

Demisão de Pelaipe: tempestade em copo d'água?
- Acho que tem uma série de atenuantes. Existe uma marola muito maior que o assunto merece. Eu entendo que o final de ano da gente foi absolutamente conturbado. Para te dar um exemplo, no dia 22 (de dezembro), eu não voltei ao Brasil. Fui de Doha para Miami. O Landim foi para o Nordeste. Isso tudo acabou atrapalhando esse processo. Eu realmente não acompanhei os detalhes. Como se tratava de um funcionário da área do Marcos, eu não sabia o que estava acontecendo. Eu fiquei sabendo o que aconteceu muito mais pelo rumores da imprensa do que por uma coisa interna. Se o Marcos diz que não sabia, ele não sabia. Mas entendo que, tecnicamente, funcionou exatamente como o contrato de alguns atletas que expiraram no dia 31 de dezembro. No meio do futebol, é muito natural você não ter seu contrato renovado no dia que ele vence e você achar que vai prosseguir.

Novamente sobre Jorge Jesus
- Sobre o Jorge, óbvio que o Flamengo quer fechar o acordo com ele o mais rápido possível. Se a gente pegar o calendário brasileiro, 31 de maio é uma boa data para a Europa. Para o calendário brasileiro, não é. Vamos estar no meio dessa travessia complicada que vai ser 2020. Vai ser uma temporada bastante complexa, quem nao tiver dois times muito bons dificilmente vai conseguir brigar em todas as frentes. E nós queremos que o Jorge lidere esse processo. Já existe uma conversa do Marcos e do Bruno com o Jorge há algum tempo, elas se intensificaram depois do Mundial. A gente gostaria de cessar isso mais cedo do que mais tarde. Mas também entendemos que certas coisas não tem o timing que a gente gostaria. Esse é um assunto prioridade na pauta do futebol do Flamengo. Eles estão cuidando disso. O que posso dizer pra vocês é que nossa decisão, assim que o Jorge definir o que ele quer, vai ser dada rapidamente.

Tem algum outro treinador no radar?
É uma ótima pergunta porque, para os atletas, temos todo um processo definido. Há um ano, quando a gente queria saber informações de um jogador, tinha que esperar 10 dias para coletar essas informações. Porque a gente ainda não tinha gente treinada com software, com as ferramentas que implementamos no Flamengo. Então a parte dos atletas evoluiu muito rápido esse ano. Nós acertamos na mosca em todas a contratações que fizemos. Em relação a técnicos, e sse é um processo que a gente começou a desenvolver mais recentemente. Na última vez que vi esse levantamento, foi em novembro, antes de ir pra Lima. E nós não tínhamos sete nomes de técnicos. Técnico é mais difícil dizer. Sete nomes a gente não tinha. Mas é claro que tem nome de brasileiros. Tem nome de brasileiros, de argentino, de europeu. Tem para todos os gostos.

Jorge Jesus, do Flamengo, em condecoração Ordem Infante Dom Henrique presidência Portugal — Foto: Pedro Nunes/Reuters

Jorge Jesus, do Flamengo, em condecoração Ordem Infante Dom Henrique presidência Portugal — Foto: Pedro Nunes/Reuters

Aguardar o Jesus não seria arriscado?
- Acho que viver é arriscado. É a história do copo meio cheio e meio vazio. Estou muito feliz de contar com o Jorge até maio. E o Flamengo está trabalhando duro pra contar com ele por mais tempo. Se tiver que ser, vai ser. Se não for com o Jorge, nossa vida vai seguir, o Flamengo vai seguir. Claro que é melhor fechar antes que depois, mas não vamos medir esforços para o Jorge ficar conosco. Mas toda negociação tem dois lados, pra nós está muito claro o que o Jorge almeja para a vida dele. Até maio ele fica conosco. Se ele não ficar depois disso, vamos lamentar. Ele já deu uma contribuição histórica para o Flamengo.

Caso alguma convocação da Seleção provoque desfalques, o Flamengo vai peitar?
Eu acho que o termo peitar não seria correto porque nossa relação com a CBF é muito boa, transparente. Nós deixamos muito claro para a CBF que nosso papel é fazer o que for melhor para o Flamengo. Em competições oficiais, cabe ao Flamengo montar um planejamento robusto sabendo que o sucesso de vários de nossos atletas pode levar a gente em 2020 ter 20 partidas sem jogadores importantes. Em 2020, se o Flamengo disputar tudo, vai jogar 80, 83 partidas. O Flamengo está sendo planejado com um time de basquete ou de vôlei, sem um time titular. Mas com um time mais amplo para poder superar esse ano de 2020, que é particularíssimo. Estamos montando um elenco que permita ao Jorge disputar e ganhar todas as competições. O objetivo do Flamengo para 2020 contempla todas essas nuances. O Flamengo é absolutamente transparente e coerente com seu posicionamento.

Negociações com Michael
- A gente conversa toda hora por telefone, Whatsapp. Então o que posso dizer é que Marcos e Bruno estão à frente nesse processo. Interessante é que estamos em férias no meio do futebol, mas pra quem está nos bastidores é um período absolutamente frenético. Marcos e Bruno estão em cima disso, cuidando desses assuntos. Basicamente o que a gente tem de notícia já foi ventilado.

Há alguma negociação mais avançada?
Quem pode responder exatamente isso para você é o Marcos ou o Bruno, eles cuidam desses detalhes. Meu papel como membro do conselho é discutir quais são as opções. Quem cuida desse tipo de detalhe são Bruno e Marcos. O que posso dizer é que esses assuntos estão sendo discutidos.

Tragédia no Ninho
- Sobre esse assunto, o Flamengo tomou uma decisão interna de como iria se posicionar. Esse assunto acabou sendo judicializado, Eu não acompanho detalhes e ninguém no Flamengo está autorizado a falar sobre o assunto. O Flamengo sempre fez muito mais do que qualquer outro caso semelhante na história do Brasil nos últimos 30 anos. Vamos lembrar aqui que Mariana e Brumadinho ainda não teve indenizações. Isso não é uma desculpa para o Flamengo, mas é um assunto bastante delicado. Não há como colocar preço na vida de uma pessoa. O que estão sendo discutidas são indenizações, não tem nada a ver com colocar preço na vida das pessoas porque a vida das pessoas não tem preço. Mas estamos dando o nosso melhor nesse caso. Infelizmente não é uma coisa que só dependa da vontade do Flamengo, é um assunto que está sendo muito bem cuidado com os nosso advogados. Foi uma tragédia horrorosa que aconteceu na história do Flamengo, a maior tragédia que nós já presenciamos.

Fonte: Globo Esporte