Uma noite trágica para o Bangu. Depois de 16 anos na elite, a tradicional equipe da Zona Oeste do Rio vai voltar à segunda divisão do Campeonato Carioca, a Série A2. Em sua casa, o Alvirrubro perdeu por 3 a 0 para o Madureira e não tem mais chance de ultrapassar a penúltima colocada, a Portuguesa - mesmo restando uma rodada para o fim da fase de classificação do estadual. O Bangu é bicampeão carioca.
A noite deste sábado foi o pior capitulo de uma queda que se anunciava desde o início da competição - a torcida, aliás, protestou jogando rojões no gramado de Moça Bonita. Em 10 jogos, o Bangu perdeu seis vezes e empatou quatro. Nem uma vitória sequer. Resultados que condiziam com um futebol de nível baixo apresentado em campo. O rebaixamento ocorre 40 anos depois da temporada mais brilhante do time, quando as cores do Bangu, carregadas por Marinho e seus companheiros, encantaram o Brasil.
Bangu não venceu um jogo sequer até aqui no Cariocão — Foto: Fernando Silva/Bangu AC
O jogo deste sábado tinha o peso de um clássico contra um rival histórico. O Bangu fez um primeiro tempo equilibrado com o Madureira e criou boas chances de marcar, faltou precisão. Já a equipe Suburbana aproveitou a oportunidade que teve: abriu o placar em bonita cobrança de falta de Celsinho. Logo no início do segundo tempo, Jefferson ampliou para piorar o cenário.
Desde o início, a torcida do Bangu alternou entre cantos de apoio e protestos direcionados à tribuna, onde fica a diretoria do clube. No segundo tempo, a tensão aumentou. Rojões foram atirados na lateral do campo, próximas ao árbitro assistente, logo atrás das placas de publicidade. Fogos também foram acesos dentro da arquibancada. O jogo teve de ser paralisado por alguns instantes. De um lado, revolta. PMs e seguranças particulares contiveram os protestos. Do outro, houve festa dos, aproximadamente, 20 torcedores do Madureira, que gritavam: "Uh, vai cair".
Uma faísca de esperança se acendeu quando foi marcado pênalti para o Bangu, aos 33 do segundo tempo. Mas, após análise do VAR, a penalidade foi anulada. Logo na sequência, Marcão subiu alto na área para fazer o terceiro gol do Madureira. A partir daí, o nervosismo tomou conta completamente do time, que não esboçou reação.
Alguns jogos foram simbólicos para a fase ruim. Após uma estreia com derrota para a Portuguesa, o Bangu conseguiu segurar o time alternativo do Vasco em São Januário e garantiu seu primeiro ponto. Mas duas rodadas depois veio o primeiro baque, com a goleada por 5 a 0 sofrida para os garotos do Flamengo. O resultado culminou na demissão do técnico Junior Martins.
O xará Junior Lopes estreou no comando do time com derrota para o Botafogo, por 2 a 0, na rodada seguinte. O Alvinegro também atuou com jovens formados no clube. Um novo abalo ocorreu com o revés para o Sampaio Corrêa, por 3 a 0. A modesta equipe de Saquarema faz apenas sua segunda participação na elite do futebol carioca e figura no G-4. O golpe mais recente sofrido pelo Alvirrubro não foi uma derrota, mas o sentimento foi parecido.
Na rodada anterior, o time chegou perto de vencer o Maricá por 1 a 0, fora de casa. A vitória daria um fôlego importante para a briga contra a degola. Porém, no último minuto, aos 51 do segundo tempo, Sérgio Mendonça empatou o jogo, nublando mais uma vez o horizonte da equipe da zona oeste.
Bangu vive muitos problemas também fora de campo — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Entre os fatores que têm afetado o desempenho em campo está o endividamento do clube. Em consulta realizada no site da Procuradoria Geral do Ministério da Fazenda, neste sábado, 15 de fevereiro, consta dívida ativa de R$ 3.718.193,12 em nome do Bangu Atlético Clube. A maior parte deste valor é referente a questões trabalhistas, de previdência e FGTS. Presidente do Bangu, Jorge Varela admitiu as dificuldades financeiras.
- (O elenco está) Mais modesto realmente, por conta de uma série de compromissos. Estou com um passivo muito alto e estou equacionando. Isso acabou me trazendo uma dificuldade financeira para montar um time que tivesse um orçamento maior - disse ao ge , em evento realizado na Ferj, na última quinta.
Em dezembro, o estádio Moça Bonita, que pertence ao Bangu, foi registrado na lista de imóveis que poderiam ser leiloados pela prefeitura do Rio, em razão de dívidas de IPTU. O clube, contudo, conseguiu negociar com a administração municipal para reverter o leilão e evitar a perda de um dos palcos mais tradicionais do futebol carioca. O acordo determina que o Alvirrubro terá de conceder aulas esportivas gratuitas para crianças e jovens em suas dependências, abatendo, assim, os débitos.
Desde 2020, o Bangu bateu na trave do rebaixamento por três vezes. O Alvirrubro foi o 11º colocado em 2021, 2022 e 2024, nos outros, não chegou perto de uma classificação para a semifinal geral. O último bom desempenho foi em 2019, quando chegou à semifinal da Taça Rio e terminou em terceiro lugar na classificação geral, à frente de Fluminense e Botafogo.
A crise do Bangu estoura em um ano que deveria ser de celebração de um passado mais feliz. Há 40 anos, o Alvirrubro encantava o Brasil com um time cheio de talentos e que alcançou o maior resultado de sua história. Marinho, Ado e cia foram à final do Brasileirão contra o Coritiba e acabaram com o vice-campeonato, em um Maracanã lotado, por 90 mil pessoas.
A expectativa do clube em 2025 era festejar o grupo e o vice-campeonato de 1985. Uma camisa comemorativa seria lançada ainda no início deste ano. Mas a ação foi adiada por causa do momento conturbado.
Desde meados do campeonato, os resultados causavam apreensão nas arquibancadas. Inconformados com o desempenho da equipe, torcedores do Bangu realizaram um protesto na entrada do estádio Moça Bonita, após a derrota por 3 a 0 para o Sampaio Corrêa. Os alvirrubros conversaram com alguns jogadores e funcionários, que ouviram críticas à postura nos jogos, além de cobranças por mais aplicação na reta final do campeonato.
Torcida do Bangu protesta contra a fase do time, no início de fevereiro — Foto: Reprodução/Instagram
Contra o Madureira, os protestos voltaram a ocorrer. Torcedor do Bangu, João Lucas criticou a direção e relatou o sentimento com a derrocada do time.
- É um sentimento de tristeza e muito revolta. A sensação é de que era um plano (da diretoria) de colocarem o Bangu na segunda divisão e conseguiram. É uma baixa autoestima mesmo. Parece que a baixa autoestima dos jogadores passou para a torcida. Principalmente depois do jogo do Maricá. Foi um balde de água fria total. Eu já estou aceitando que o rebaixamento já aconteceu, aconteceu durante o campeonato. O time não tinha nenhuma reação.
- É o pior dos cenários. Porque para subir vai ser bastante difícil para o clube se reerguer e retomar a visibilidade por mais que o clube gere todo o hype, pela camisa, pelo documentário (Doutor Castor) isso não vai sustentar a longo prazo. Para o Bangu voltar à Série A do Carioca vai ser muito difícil.