Bandeira lembra brigas, inimigos e não baixa guarda no Flamengo: “Nunca loteamos o clube”

Em mais de 1h de entrevista na sala da presidência, Eduardo Bandeira de Mello, de 65 anos, o Eduardo, como é chamado entre funcionários mais próximos e diretoria, mostrou que passa longe daquele senhor recém-aposentado que desembarcou na Gávea em janeiro de 2013.

Na última quinta-feira, a dias da eleição - marcada para o dia 8 de dezembro, neste sábado -, ele lembrou desafetos e rebateu críticas. Misturou ironia e sarcasmo para se defender e também atacar. Foi político ao dizer que teme o governo do adversário de Ricardo Lomba, o opositor Rodolfo Landim, e garantiu se despir de vaidade ao dizer que não se importará se seus sucessores colherem os frutos da estrutura plantada em seus seis anos.

Bandeira em 2013 e em 2018: em seis anos, soluções administrativas, transformações econômicas, mas fracassos no futebol — Foto: Cahê Mota / Marcos Ribolli

Bandeira em 2013 e em 2018: em seis anos, soluções administrativas, transformações econômicas, mas fracassos no futebol — Foto: Cahê Mota / Marcos Ribolli

Confira a entrevista de Eduardo Bandeira de Mello:

Qual era o Eduardo que entrou em janeiro de 2013 e qual sai agora? Hoje é uma pessoa que reage mais, sempre na defensiva?

Eduardo Bandeira de Mello: Acho que depende do interlocutor. De repente, quando eu cheguei aqui eu não tinha muita experiência, era um torcedor que sentou na cadeira de presidente. Com o tempo, você vê que tem interlocutores com quem pode continuar absolutamente aberto e outros com quem, se você bobear, leva uma punhalada nas costas. Isso vale para todo tipo de interlocutor.

Internamente, no Flamengo, como foi esse relacionamento? Esperava mais facilidade?

Ingenuamente imaginei que todo mundo iria embarcar na mesma canoa, mas eu vi que não, que aqui no Flamengo tem muitos interesses, muitas vaidades e muitos interesses escusos. Tive que conviver com muita gente que se fez de aliado, e de repente, porque eu frustrei alguma ambição eleitoral, de repente se volta contra mim, me acusando das coisas mais escabrosas.

Gente que estava me bajulando há dois ou três meses e hoje está me chamando de ladrão. É desagradável, mas dá para conviver. Um ex-presidente do Flamengo me falou que, se um dia eu estivesse com dificuldade de fazer inimigos, era para eu entrar para a política do Flamengo. Quando eu entrei para a política do Flamengo, eu já tinha quase 60 anos e nunca tinha feito inimigo na vida, hoje eu tenho alguns. Não muitos, mas tenho alguns.

A CRISE POLÍTICA

Fala de Wallim, BAP? Hoje você não senta nem para conversar, aparar aresta, com eles?

São pessoas que me ofenderam, que fizeram coisas que eu tenho muita dificuldade de perdoar e acho que nem eles queriam que eu perdoasse. Não só esses que você citou, mas tem outros também, até alguns mais recentes.

É uma oportunidade de voltar num assunto antigo. Ainda hoje circula na internet entrevista, do fim de 2012, em que o senhor dizia que o Wallim te escolheu. Depois, disse outra coisa.

Quando houve aquele movimento para barrar a candidatura do Wallim e Landim, começaram a pensar num plano B. Ninguém tinha condições estatutárias para concorrer ou então não tinha condições profissionais de assumir, alguma coisa assim. O Rafael Strauch, apoiador do grupo, estava entusiasmado, era meu colega no BNDES e falou:

“Conheço um cara do BNDES que é Flamengo doente, que é sócio do Flamengo há mais de trinta anos, que comprou o título de sócio-proprietário para todos os filhos, que vem aqui nas reuniões do Conselho, não participa muito da vida política do clube, mas acho que poderia ser um bom nome, tecnicamente é bom”. Como o Wallim me conhecia e o Rodolfo (Landim) também me conhecia, porque é colega do meu irmão de muito tempo, eles gostaram da ideia, vieram conversar comigo e endossaram a hipótese de eu ser o plano B.

Gustavo Oliveira, Rodolfo Landim, Wallim Vasconcelos e Luiz Eduardo Baptista: após cisão, lançamento de chapa para desbancar Bandeira — Foto: Fred Gomes

Gustavo Oliveira, Rodolfo Landim, Wallim Vasconcelos e Luiz Eduardo Baptista: após cisão, lançamento de chapa para desbancar Bandeira — Foto: Fred Gomes

Mas foi o Wallim que te escolheu?

O Wallim não me escolheu, ele me aceitou. Ele e o resto do grupo. Um dia ele levou o BAP lá no banco para me conhecer. O BAP estava na reunião e eu na plateia, por isso que eu falo que quem sugeriu meu nome foi o Rafael Strauch. Eles aceitaram e calhou que para surpresa geral, pelo menos minha, a candidatura dele foi impugnada. E virei candidato da noite para o dia. Tudo que estava lá como proposta da chapa era coisa que eu já considerava superimportante na chapa do João Henrique Areias (ex-vice de marketing do clube) em 2009, numa formação embrionária do grupo. Foi muito pouco tempo entre a candidatura e a eleição. Aí tem aquela coisa que eles falam, que tudo ia ser decidido em conjunto e que eu não poderia concorrer à reeleição. É mentira, nunca houve acordo nem proposta.

Mas nem uma suposição de que haveria essa passagem de bastão?

O que houve foi o seguinte: sou a favor do que acontece dentro das sociedades, decisões compartilhadas. O estatuto do Flamengo prevê que a figura do presidente é responsável por tudo. Mas eu, particularmente, acho que o melhor formato, ainda que o presidente tome as decisões, é que as escolhas estratégicas sejam compartilhadas. Se você consegue juntar um grupo de pessoas, rubro-negras bem intencionadas e competentes, não tem por que não compartilhar decisões. E isso acontece até hoje. É claro que o dia a dia é tocado pelos profissionais do clube.

E eu, como sou o único dirigente amador, com dedicação exclusiva, participo mais que os outros. Mas, pode ser que na cabeça deles, funcionasse como ''ah, estamos fazendo um favor para esse garoto'' (risos). ''Tem que agradecer de ser presidente do Flamengo, mas quem vai mandar somos nós''. De repente, passou pela cabeça deles. Ninguém me falou isso. Porque se tivessem falado, nem eu nem ninguém aceitaria essa situação.

E como foi a decisão pela reeleição?

Apesar de não ter me comprometido em momento algum a não ser candidato à reeleição, porque isso sequer foi falado e na minha cabeça eu ia ficar três anos só, que era o que tinha combinado com a minha mulher. Mas eu estava com isso na cabeça até o fim de 2014. Em outubro de 2014, numa viagem do time de basquete aos Estados Unidos, em Memphis, o Rodolfo Landim me chamou para conversar e falou: ''Reunimos nosso grupo aqui e chegamos na conclusão de que ano que vem na eleição o melhor nome para seguir é você mesmo. Queria que você pensasse nisso, consultasse sua família''. Foi a primeira vez que comecei a pensar em ser reeleito.

Nessa altura, a relação com Wallim e Bap já não era como no início? Após demissão do Jayme, com o Pelaipe.

Para mim, eram discordâncias naturais. Houve divergências pontuais e operacionais do dia a dia. Não considerei aquilo um motivo para cindir o grupo. O que aconteceu foi que eles fizeram aquele movimento, que eu fui contra num primeiro momento (demissão do Jayme). Eu dava autonomia ao departamento de futebol. A delegação que eu dava, depois, se revelou contraproducente. Tanto que, a partir daí, passei a ter o futebol mais perto de mim. Depois que vim a perceber que, na realidade, quem mandava no futebol não era o Wallim, era o BAP. Então, a partir daí, comecei a ter a coisa mais perto de mim.

Depois, a gente começou a emburacar no Brasileiro (após eliminação da Libertadores de 2014) e o Wallim vinha ameaçando sair. Até o jogo em que o Ximenes (contratado na vaga de Pelaipe) deu esporro no time. Aí o Wallim me liga, e eu fui ver minha sobrinha-neta em Paris, num raro momento em que tirei alguns dias de folga nesses seis anos. Ele disse que não aguentava mais, que ia embora, que estava tomando porrada. A gente estava em último lugar no campeonato. Ele resolveu sair, um abraço e foi. Eu, fora do Brasil (em Paris), e a imprensa me ligou, 2h, 3h da manhã, tentando administrar a situação da melhor maneira possível.

Wallim (de boné) e Bandeira (de casaco) hoje não se falam mais. Rusgas do primeiro mandato nunca foram aparadas — Foto: Thales Soares

Wallim (de boné) e Bandeira (de casaco) hoje não se falam mais. Rusgas do primeiro mandato nunca foram aparadas — Foto: Thales Soares

Mas esse período que o senhor chama de "contraproducente" te deu o maior título da gestão, que está no quadro aqui da sua sala, o título da Copa do Brasil de 2013...

Eu fiquei muito feliz de ganhar aquela Copa do Brasil. Nosso time, em relação ao time de hoje, era bem mais modesto, mas eu acho, até que pelo time ter se unido naquela saída do Mano Menezes, houve um conjunto de fatores que nos levaram ao título. Esse conjunto de fatores funciona muito mais em uma competição mata-mata do que em um campeonato de pontos corridos. Tanto que naquele ano nós ganhamos a Copa do Brasil passando por Remo, Cruzeiro, Botafogo, Goiás e depois ganhamos do Atlético-PR (todos, com exceção do Remo, na parte de cima da tabela do Brasileior). Mas no Brasileiro a gente disputava para não cair. A gente terminou em 13º e até naquela história nebulosa da Portuguesa e do André Santos a gente acabou caindo para 16º. Mas no futebol, no campo, fomos 13º e tivemos arriscados a cair até o fim.

A saída do BAP já foi mais dura?

Houve reunião na casa do Wrobel, e o BAP deu um piti, destratou o Wrobel na casa dele. Depois se arrependeu, pediu desculpas. Só saiu do comitê do futebol. Foi nessa altura que teve o pedido do Rodolfo para assumir a candidatura (à reeleição). Ali ainda tivemos duas reuniões do grupo inteiro para tratar de eleição do ano seguinte. Estava todo mundo topando que eu seria o candidato. Aparentemente seria uma eleição tranquila e não se vislumbrava alguém na oposição. Mas no dia 30 de janeiro houve aquele episódio da Ferj, que o Rubinho me destratou, xingou minha mãe .

Nesta ocasião, o BAP e outros não tinham pedido para o senhor não ir até a Ferj?

Foi a desculpa que ele deu, que eu contrariei a decisão do grupo. Não teve decisão do grupo. Eu estava em Brasília, houve uma reunião por conference call. (Depois da Ferj,) ele teve lá um ataque e, por WhatsApp, me ofendeu e ofendeu o Flavio Willeman. Eu estava na casa da minha mãe, e tinha um Blackberry que estava esquentando e não via as mensagens de WhatsApp. Acho que ele ficou ofendido que eu não respondia e falou uns desaforos. Acho que ele deve ter visto depois a m... que fez e se sentiu na obrigação de sair. Depois aquele negócio ‘’de burro com iniciativa’’ . No primeiro debate, encontrei o Wallim e nos cumprimentamos normalmente. No segundo também, mas no dia seguinte abri o jornal e estava lá a entrevista do Wallim: "Se o Eduardo tiver o mínimo de vergonha na cara, não fala mais comigo". Como eu tenho, não falei mais.

GESTÃO E O FRACASSO NO FUTEBOL

Um discurso comum da atual oposição é de que o Bandeira levou a fama, mas nunca deitou na cama. Ou seja, você não fez parte do plano estratégico. Como responde?

Você imagina que seria possível fazer qualquer coisa sem a participação do presidente? Eu não gosto de puxar os méritos para mim, mas diria que a principal iniciativa que permitiu alongar e tornar palatável a dívida do Flamengo foi o Profut. De um dia para o outro, a dívida foi reduzida em R$ 100 milhões, que é o desconto dos encargos legais e juros de mora, que todo Refis tem. E o remanescente ficou diluído em 20 anos. O Profut, todos os VPs deram apoio, concordaram, mas pessoalmente quem passou dois anos e meio lá em Brasília, na Câmara, negociando, participando da formulação, fui eu.

Basicamente, a dívida do Flamengo foi paga por vontade política de fazer a coisa certa, cortar na carne, reduzir as despesas... De todos os VPs do Flamengo, 90% têm condição de ser vice de finanças. É só fazer conta. Tínhamos um excelente diretor financeiro, o Paulo Dutra, que foi embora e temos outro excelente, que é o Márcio Garotti. Não faz o menor sentido imaginar que o presidente não participou. Eu participei de todas as coisas boas e ruins. O que o Flamengo fez de errado, mesmo se eu não tiver participado diretamente, a responsabilidade é minha.

Algum momento de arrependimento por ter aceitado ser presidente?

De jeito nenhum. O Flamengo é a coisa mais importante da minha vida depois da minha família. Então, saber que estava fazendo algo bom para o Flamengo… Não perdi seis anos de vida, eu ganhei. Foram anos enriquecedores. Sou criticado, me "xingam" de funcionário público, como certamente vão fazer com o Lomba (se for eleito presidente). Tenho uma aposentadoria que me garante uma vida digna, mas não enriqueci no nível de outros. É a minha vida, estou feliz com ela, passei seis anos no Flamengo e não enriqueci. Quem enriqueceu foi o Flamengo. Se eu quisesse ter me aproveitado, era a coisa mais fácil que tem.

Mas não considera um erro ser vice de futebol, a gestão no futebol?

É difícil voltar atrás e dizer se teria feito diferente, mas sempre defendi que a administração é profissional. Nosso vice de finanças sempre foi muito competente, mas o dia a dia quem toca é o diretor financeiro. O vice não tem tempo para tocar o dia a dia. Precisava de alguém de minha confiança, que aceitasse o encargo e não quisesse fazer sombra ao trabalho do diretor de futebol. Deveria ser alguém com bom senso, como foram Wrobel, Flavio Godinho, Gerson Biscotto.

Algumas pessoas de minha confiança no Conselho Diretor eu chamei para o futebol e não puderam assumir. Outras gostariam, mas eu não tinha confiança. Como o futebol era tocado pelo diretor executivo, achei que a melhor posição provisória fosse eu assumir. E foi ficando até surgir um nome, que foi o Lomba. Acumulei, mas o Rodrigo Caetano tinha a mão no volante e aguardamos a oportunidade.

Bandeira, de 65 anos, termina mandato no no fim de dezembro. Na parede, comprovante de pagamento pessoal da dívida do clube — Foto: Cahê Mota

Bandeira, de 65 anos, termina mandato no no fim de dezembro. Na parede, comprovante de pagamento pessoal da dívida do clube — Foto: Cahê Mota

Onde acha que errou no futebol?

Posso ter errado em muita coisa, mas se avaliar a evolução do futebol do Flamengo, vai ver que melhorou. Se tivemos a melhor campanha na história dos pontos corridos, é sinal que evoluímos alguma coisa. Fomos campeões em 2009 com cinco pontos a menos. O Palmeiras fez uma campanha melhor. Parabéns para o Palmeiras. A torcida gritava "Libertadores qualquer dia tamo aí". O que era comemoração agora é motivo de cobrança se não classificar. Agora, é "Libertadores todo dia tamo aí".

Agora, o senhor saindo, se o Flamengo conquistar alguma coisa, como vai se sentir? Frustrado?

Se eu fosse uma pessoa vaidosa, buscando notoriedade e colocando minhas questões pessoais acima do Flamengo, poderia ficar (frustrado). Mas eu sou torcedor e quero que o Flamengo ganhe. Vou estar feliz na arquibancada e com a certeza de que trabalhei para isso. Já me falaram: "Você fez tudo, vai deixar CT, a base formada, finanças e outro vai vencer?". Eu digo: "Ótimo". Foi para isso que eu fiz.

Marcio Braga diz que o senhor é pé-frio. Concorda com isso?

Minha resposta é de que não acredito em pé-frio. Acredito no trabalho.

Qual a vitória que mais deu prazer?

É difícil dizer, mas com certeza guardo as duas Copinhas no Pacaembu lotado (2016 e 2018). Sempre fui fã e acompanhador da base do Flamengo, desde que o Zico era juvenil, até antes. Não tem nada mais importante no clube de futebol do que trabalhar a base. E olha que tivemos um vice-presidente que queria acabar com a base do Flamengo.

Você se refere ao BAP?

Isso. Ele achava que era perda de tempo e de dinheiro. Que poderíamos comprar jogador pronto. Claro que ninguém levou a sério. Mas...as duas copinhas com Pacaembu lotado de corintianos, depois de são paulinos, e nós vencendo, ver a empolgação dos meninos. Campeonato da base é contagiante.

A base você não investe hoje para ter um resultado em 15 minutos. Esse trabalho que a gente está fazendo na base agora, você pode ter certeza que é coisa para gerar resultados para os próximos 10 anos ou mais.

Como o Eduardo quer ser lembrado?

Sinceramente, não estou muito preocupado com isso. As pessoas me param na rua, me agradecem. Há gente que me xinga, a minoria da minoria da minoria, mas a maioria me para e pede retrato. Diz que tirei o clube da lama, de uma situação de credibilidade zero, mas não fui eu sozinho. Fui o coordenador de um projeto com um monte de gente boa. Não sei como vou ser lembrado. Tenho certeza de que para a maioria da torcida vou ser lembrado com o carinho de quem fez o que estava ao seu alcance.

Na sua sala, além do quadro da Copa do Brasil 2013 tem o de um DARF (documento de quitação de dívida com a Receita) na parede. Representa a gestão que ganhou pouco no futebol, mas regularizou as finanças do clube. Tem a ver com isso?

Esse é um DARF pessoal que fiz para pagar parte da dívida do Flamengo, na campanha do Fla em Dia. Mas para mim vale como um campeonato essa recuperação da credibilidade e da dignidade do clube. Tenho um grande orgulho. Repito: não fiz sozinho. Esse gol não foi só meu.

Acho que as pessoas perceberam que os torcedores do Flamengo gostam de ser responsáveis. Não gostam de ser achincalhados. Aliás, o Vampeta recebeu todos os centavos que o Flamengo devia e ele não pode voltar agora para jogar o que fingiu que jogou, né?

Fred Luz, Rodrigo Caetano e Bandeira: nos tempos de acúmulo da presidência e da VP de futebol, poderes ficaram acumulados no trio  — Foto: Richard Souza/GloboEsporte.com

Fred Luz, Rodrigo Caetano e Bandeira: nos tempos de acúmulo da presidência e da VP de futebol, poderes ficaram acumulados no trio — Foto: Richard Souza/GloboEsporte.com

ELEIÇÃO

Como vê a definição dessa eleição? Lomba é o seu candidato e tem o Landim, do grupo original. Confia nas duas chapas ou teme de alguma maneira?

Não, eu temo, sim, pelo futuro do Flamengo. Porque a nossa administração ao longo desse tempo todo nunca fez acordo fisiológico. Nunca loteamos o Flamengo. Em seis anos, tenho orgulho de dizer que nunca empreguei um parente, um amigo, um amigo de VP... Quem viesse pedir emprego teria que entrar lá no departamento pessoal tecnicamente. Isso valia para tudo. E o lado de lá eu estou vendo que estão fazendo acordo com gente que já esteve no Flamengo, e esse loteamento de poder é extremamente nocivo para o clube.

Mas houve tentativas do grupo do Lomba de coalisão com muitos desses que estão com Landim. O senhor nunca sentou para dialogar com outros grupos e ofereceu cargos?

A composição é normal desde que você não abra mão dos princípios. Cargo profissional nós nunca preenchemos nesses seis anos por razão fisiológica ou apoio político. Vice-presidência, você tem a composição em cima de ideias. Tem um plano de trabalho e, se está interessado em apoiá-lo, pode ter um cargo de vice-presidência ou não.

Hoje há rejeição grande ao SóFla. O senhor também está isolado deles e por eles?

Tem gente que gosta de mim no SóFla e gente que não gosta. Quando o Flamengo perde para o Volta Redonda, escreve nota de repúdio, mas nunca me pediram nada em benefício próprio, nem demonstraram falta de educação.

Lomba e Bandeira assistem à coletiva de Carpegiani: atual vice de futebol foi indicado para sucessão do presidente do Flamengo — Foto: Raphael Zarko / GloboEsporte.com

Lomba e Bandeira assistem à coletiva de Carpegiani: atual vice de futebol foi indicado para sucessão do presidente do Flamengo — Foto: Raphael Zarko / GloboEsporte.com

“GUERRERO FOI A CONTRATAÇÃO MAIS EMBLEMÁTICA”

Qual foi o reforço que deu mais orgulho?

Acho que a contratação mais emblemática que fizemos foi o Guerrero. Ele era tido como o melhor jogador do Brasil naquele momento, considerado inacessível e, quando o Flamengo conseguiu trazer, boa parte dos comentaristas disse: "Está vendo? Não disseram que acabou a política de irresponsabilidade? Quero ver ter dinheiro para pagar". E nós calculamos cada centavo e sabíamos que íamos pagar tudo. Foi quando passaram a olhar para o Flamengo com outra cara, de que realmente algo estava mudando.

Qual foi a demissão mais difícil?

Toda demissão é uma coisa traumática. Não gosto. Em alguns, víamos que os profissionais, por mais competentes que fossem, perderam a capacidade de trabalhar por conta de pressão, de massacre. O Zé Ricardo e o Rodrigo Caetano foram casos emblemáticos. Nos dois casos, levei bronca da minha mulher. O Zé Ricardo é meu amigo até hoje. O Barbieri, por exemplo, eu achava que seria improdutivo demiti-lo. Outro treinador excepcional, que será de ponta, e com certeza vai voltar ao Flamengo e vou ver como torcedor. Mas, hoje, não tenho dúvidas de que foi bom ele ter saído, por melhor que ele fosse.

Guerrero e Eduardo Bandeira de Mello: atacante peruano e presidente do Flamengo sempre tiveram bom relacionamento — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

Guerrero e Eduardo Bandeira de Mello: atacante peruano e presidente do Flamengo sempre tiveram bom relacionamento — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

Contratação do Conca foi um erro? Houve recomendação contra a contratação.

Foi uma contratação que deu errado. Isso é inegável. Agora, o departamento médico não disse "não contrata". Ele estava em um processo de recuperação que poderia dar certo ou errado. Foi feito um contrato em que só começaria a ganhar depois de escalado.

O próprio Zé Ricardo um dia resolveu escalar, escalou e começou a contar o taxímetro. Não foi um prejuízo muito grande, mas com certeza deu errado. Todo mundo levava muita fé. Não foi o Godinho que forçou a barra, nem o Tanure contraindicou.

O senhor contesta a pecha de que protege jogadores. Mas não acha que algumas posturas podem, sim, causar comodismo no futebol?

Essa coisa de jogador protegido é uma covardia. O que é um jogador protegido? Eu não gosto de covardia, de injustiça. Historicamente, quando o time do Flamengo tem um bom time no papel e começa a ir mal, existe uma tendência de procurar um culpado. Normalmente, vai procurar o jogador menos famoso, não teria muito problema. Acho que teve um efeito positivo no grupo do Flamengo (a proteção). A partir do momento em que eu defendo um jogador diante da imprensa, eles se sentem respaldados.

Mas não gera justamente este conforto, comodismo?

Essa coisa de "protegidos" foi criada maliciosamente quando falei que não achava que se deveria encontrar culpados em um esporte coletivo. Acho injustiça. E em uma roda de jogadores eu falei: "Vocês que estão sendo perseguidos, não se deixem abater. Eu confio em vocês". Foi quando começou que eram os queridinhos do presidente, mas não me arrependo, não.

AS BRIGAS COM TORCEDORES

Se arrepende das brigas com torcedores? Houve mais um episódio agora na OPG.

Com certeza. Sou uma pessoa mais emocional. São reações de momento que de repente não deveria ter. Dei banana para um torcedor em Santa Catarina e fui processado como se tivesse dado uma banana para torcida, para 40 milhões de rubro-negros. Na OPG também foi uma meia-dúzia.

Não sou um lorde. Se o Flamengo quer um presidente lorde, vai procurar no Itamaraty. Vim da arquibancada e, de vez em quando, tenho reações de quem está na arquibancada. Me arrependo e peço desculpas para quem se ofendeu.

Esse de Campinas, a câmera da Fox pegou, foi um torcedor que estava torcendo contra. Na hora que o Jorge fez o gol, aponte para ele e disse "se f...". Fizeram leitura labial. Essas coisas não devo fazer, mas de vez em quando eu faço. Às vezes é até bom. Esse da Ponte Preta foi ótimo (risos).

Em Aracaju (SE), torcedor (de braço abertos) discute com Eduardo Bandeira de Mello. Naquela noite, Fla perdeu para o Confiança — Foto: Raphael Zarko

Em Aracaju (SE), torcedor (de braço abertos) discute com Eduardo Bandeira de Mello. Naquela noite, Fla perdeu para o Confiança — Foto: Raphael Zarko

Bandeira deu banana a torcedor que o ofendeu. Caso provocou polêmica e processos internos no Flamengo — Foto: Antonio Carlos Mafalda/Mafalda Press

Bandeira deu banana a torcedor que o ofendeu. Caso provocou polêmica e processos internos no Flamengo — Foto: Antonio Carlos Mafalda/Mafalda Press

E da frase sobre os falsos rubro-negros?

Falsos rubro-negros são torcedores que se dizem rubro-negros e torcem contra. Eu nunca vou torcer contra o Flamengo. Não há motivo que me leve a isso. Se o cara se diz rubro-negro e torce contra por razões econômicas, profissionais, políticas, para mim são falsos. Quando falei isso, disseram que era para quem é contra mim. Isso é uma idiotice. Continuo dizendo que existem falsos rubro-negros. É quem coloca os seus interesses na frente do Flamengo.

Onde encontrar Bandeira de Mello no Maracanã em 2019?

Na arquibancada do Maracanã, setor leste. Sempre fui de ir onde depois eram as arquibancadas brancas. E voltarei para lá.

banner flamengo — Foto: Divulgação

Fonte: Globo Esporte