No último domingo, Flamengo e Bahia protagonizaram um grande jogo no Maracanã. Duas viradas, uma para cada lado, e a vitória do Rubro-Negro por 4 a 3 com um a menos . No entanto, o resultado ficou em segundo plano por conta de mais um caso de racismo.
O volante Gerson, do Flamengo, acusou o meia Índio Ramírez, do Bahia, de injúria racial . O volante do clube carioca revelou que o colombiano falou 'cala boca, negro' após o segundo gol do clube baiano.
O Bahia anunciou o afastamento do jogador após a situação e afirmou que continuará investigando o caso. Nesta terça, o clube, por meio de suas redes sociais, postou a versão do jogador, que tentou esclarecer o que aconteceu.
Veja abaixo:
A pedido do atleta, a versão do colombiano @indioramirez97 sobre a acusação de racismo no Maracanã pic.twitter.com/qMwY7gUEtV
— Esporte Clube Bahia (@ECBahia) December 22, 2020
"Em nenhum momento fui racista com nenhum dos jogadores. Com Gerson e com ninguém. O que passa foi que, quando fizemos o segundo gol, jogamos a bola rapidamente ao meio-campo. O Bruno Henrique enrola, e peço a ele para jogar rápido e sério. Ele joga a bola para trás, não sei o que Gerson me falou, porque não entendo português e disse: 'joga rápido, irmão'. Não sei o que ele entendeu, começou a me perseguir sem entender nada. Saí por trás porque não queria entrar em confusão. Depois, ele sai a falar que eu falei: 'cala a boca, negro'. E eu não falo português. Sobre ser racista, não estou de acordo. Não é bem visto em nenhuma parte do mundo. Somos iguais", disse o meia em uma parte do vídeo.
"Bom, de coração, espero que as coisas clareiem. Minha família está vivendo algo complicado, tanto minha família como eu. Em nenhum momento fui racista. É um tema complicado, minha família recebeu muitas mensagens de violência. Quero estar bem, vim ao Brasil para jogar, para fazer as coisas bem. Peço desculpas a Gerson, a toda a gente que escutou mal o que eu falei. Em nenhum momento falei algo racista", completou.
Nesta terça-feira, o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, participou do Futebol Na Veia , da ESPN Brasil , e contou detalhes do papo que teve com Gerson e com Índio Ramírez.
“Nosso atleta afirma que não falou o que Gerson ouviu. Isso é importante, não pode significar uma redução da voz da vítima, foi o que falei com o Gerson, mas tem que ter direito de defesa ao Índio Ramírez. Minha fala foi de respeito e que a voz dele é relevante, ponto de partida para tudo. O Bahia estuda, não desceu de paraquedas no tema. A voz da vítima é importante e deve ser levada ao extremo", disse Bellintani, que trouxe detalhes do papo com os dois jogadores.
"A conversa foi direta, objetiva, ligação de solidariedade, entender o processo para que compunha a nossa análise, investigação, tentando entender a forma mais firme o que aconteceu e partir para punições ou processos educativos. Não vamos abrir mão disso. Já ouvi o Ramírez três vezes, estamos levando a sério. Se tivesse que acontecer em algum clube, por mais que a gente sinta muito, aconteceu no Bahia, um clube que está preparado para o enfrentamento. Temos muito que aprender, mas estamos razoavelmente preparados".
“Qual seria a frase que ele (Ramírez) teria falado? Ele disse que falou ‘vamos jogar sério’ quando passou pelo Gerson", finalizou.
Gerson assinou uma intimação e tem depoimento marcado para terça-feira (22), às 10h. O camisa 8 tem a companhia do departamento jurídico do Flamengo. Segundo Rodrigo Dunshee, vice-presidente da pasta, o clube vai acionar o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) contra Índio Ramírez e Mano Menezes.
A delegada Marcia Noeli, da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, informou que Ramírez, jogador do Bahia, o técnico Mano Menezes e o árbitro Flavio Rodrigues de Souza vão precisar prestar depoimento por conta da acusação feita por Gerson. A informação foi divulgada pelo site globoesporte.com. Ainda não há uma data definida.
Veja abaixo o relato de Gerson na saída de campo.
"Jogo muito difícil desde os dez minutos do primeiro tempo. Perdemos um jogador muito importante do nosso time ( Gabigol foi expulso ), mas mesmo assim o time foi muito forte. Agradeço o grupo, está de parabéns, pela força, pela vontade... Tomamos a virada, mas não desistimos e corremos atrás da vitória", começou.
"Quero falar uma coisa: tenho vários jogos pelo profissional e eu nunca vim falar aqui nada para a imprensa, até porque nunca sofri esse preconceito e nunca fui vítima nenhuma vez. Depois o Mano (Menezes) até falou 'É, agora você é vítima, porque o Daniel Alves te atropelou', mas teve respeito".
"O Ramirez, quando a gente tomou o segundo gol, o Bruno Henrique fingiu que ia chutar uma bola, ele reclamou com o Bruno, e eu fui falar com ele, e ele falou bem assim para mim: "Cala a boca, negro". Eu nunca sofri. Mas isso eu não aceito. Eu nunca falei de treinador, mas o Mano tem que saber respeitar. Estou vindo falando em nome de todos os negros do Brasil", disse ao Premiere.