Azarão, técnico europeu e até Guerrero: jornalistas equatorianos desvendam o rival do Flamengo

Passada a ressaca da eliminação da Copa do Brasil, o Flamengo volta o foco para a Libertadores, seu principal objetivo na temporada, e tem nesta quarta-feira o "jogo mais importante do ano" para o clube até agora: o Rubro-Negro de Jorge Jesus faz a partida de ida das oitavas de final contra o Emelec, às 21h30 (de Brasília), em Guayaquil, no Equador.

O rival é um velho conhecido dos rubro-negros, que já enfrentaram o Emelec nove vezes na história, com amplo domínio do Flamengo no confronto: sete vitórias, um empate e uma derrota. O último encontro entre eles foi em maio de 2018, com triunfo brasileiro por 2 a 0 no Maracanã. Um ano e dois meses depois, como chega o time equatoriano para a "revanche"?

A fase não é boa. O Emelec é só o sétimo colocado do Campeonato Equatoriano, com 26 pontos em 18 jogos (oito vitórias, oito derrotas e dois empates). Na Libertadores, venceu o Cruzeiro no Mineirão, mas se classificou em segundo do Grupo B. Vem de derrota em casa por 1 a 0 para o Deportivo Cuenca e, mesmo com promoção, vendeu só metade dos 38 mil ingressos até agora.

Venezuelano Pernía é um dos três reforços do Emelec, mas deve ficar no banco — Foto: Divulgação / Emelec

Venezuelano Pernía é um dos três reforços do Emelec, mas deve ficar no banco — Foto: Divulgação / Emelec

Para as oitavas de final, o Emelec inscreveu três reforços: o atacante venezuelano Pernía; o lateral-direito equatoriano Carabalí; e o zagueiro argentino Leguizamón, que se machucou na estreia, no último dia 13, e ainda não se recuperou. Ele se junta ao lateral-direito Paredes, que já está há quatro meses fora de combate devido a uma fratura de tíbia, como desfalque para a partida.

Assim como o Flamengo, o adversário também trocou recentemente de comando e apostou em um europeu: o espanhol Ismael Rescalvo, jovem treinador de 37 anos que já havia feito bons trabalhos na Colômbia por Independiente del Valle e Envigado. E não estranhem, mas há um Guerrero no ataque. Só que esse é equatoriano mesmo, xará do peruano Paolo, ex-Rubro-Negro.

Expectativa para a partida; pontos fortes e fracos, qual a tática do técnico espanhol etc... Para saber mais detalhes do Emelec, o GloboEsporte.com entrevistou os jornalistas equatorianos Álvaro Riera e Lito León, da "Rádio Caravana"; Antonio Romero, do jornal "El Universo"; Javier Ruiz, da "Rádio Sucre 700 AM"; e a repórter Mafer Albán, do portal "Pizarra Sports" .

Confira o que eles disseram:

Como está a expectativa para o jogo?

Riera: – A expectativa é pobre, tanto da torcida quanto da imprensa. Se espera uma derrota do Emelec e preocupa que seja por goleada. Porque o Emelec não vem jogando bem, sem chegadas nem jogo coletivo, vem sendo uma equipe partida no meio de campo e muito frágil. É muito fácil atacá-la e causar dano em contra-ataques.

Romero: – Se espera principalmente que o Emelec faça gol em casa, uma vez que Bryan Angulo volta à escalação. Uma vitória por diferença mínima seria um bom resultado.

Ruiz: – A expectativa por parte da torcida do Emelec não é muito boa, pois o clube não apresenta melhoras e perdeu em casa para o Deportivo Cuenca.

Mafer: – Há um pouco de ansiedade positiva de estar jogando uma partida importante, porque há vários anos tem classificado para a Libertadores, Sul-Americana, mas não tem conseguido ir além das quartas de final. Então estão bastante motivados, têm que se recuperar da derrota para o Deportivo Cuenca no campeonato equatoriano.

León: – A expectativa é grande aqui em Guayaquil para ver a equipe do Flamengo. Pelo Emelec nem tanto, já que o time vem de derrota em casa no Campeonato Equatoriano para o Deportivo Cuenca. Mas, ainda assim, os torcedores do Emelec sempre vão estar no estádio para apoiar. Mas expectativa para ganhar esse jogo? Não vejo tanto assim.

Qual escalação você aposta para quarta-feira?
Provável escalação do Emelec para encarar o Flamengo nas oitavas da Libertadores — Foto: GloboEsporte.com

Provável escalação do Emelec para encarar o Flamengo nas oitavas da Libertadores — Foto: GloboEsporte.com

Riera: – Dreer; Caicedo, Jaime, Vega, Bagui; Arroyo, Godoy, Queiroz; Cabezas, Guerrero, Angulo.

Romero: – Dreer; Caicedo, Mejía, Vega, Johnson; Arroyo, Queiroz, Rojas; Cortez, Guerrero, Angulo.

Ruiz: – Dreer, Caicedo, Jaime, Vega, Bagui; Arroyo, Godoy, Queiroz; Cabezas, Guerrero, Angulo.

Mafer: – Dreer, Caicedo, Jaime, Vega, Estacio; Arroyo, Queiroz, Rojas; Cortez, Guerrero, Angulo.

León: – Dreer, Carabalí, Jaime, Vega, Johnson; Arroyo, Godoy; Caicedo, Cortez, Guerrero; Angulo.

Qual é o ponto mais forte dessa equipe?

Riera: – São esses: o goleiro experiente e quatro vezes campeão, Esteban Dreer; o zagueiro argentino que chegou há um ano do River Plate, comprado por US$ 1,2 milhões (cerca de R$ 4,4 milhões), Leandro Vega; e seu goleador nas últimas três temporadas e na Libertadores com quatro gols, o centroavante Bryan Angulo.

Romero: – Os meias Rojas, Guerrero y Cortez. E também o zagueiro Vega.

Ruiz: – Por agora o ponto mais forte é seu goleiro. Sólido, tem voz de comando e tem salvado o Emelec de algumas derrotas. É uma das referências que a equipe tem, embora talvez este seja seu último ano no clube.

Mafer: – Creio que é com Cortez, que joga de meia e movimenta bem o jogo.

León: – O ponto mais forte está em seu ataque, com Bryan Angulo, um jogador que teve uma temporada muito regular em 2018 e foi o goleador do Emelec. Junto com Pernía, que chegou recentemente.

Para você, quem é o melhor jogador do elenco?

Riera: – A equipe vem tendo baixo níveis individuais, o rendimento dos jogadores está intermitentes. Mas pela regularidade o melhor jogador é o goleiro Dreer. Pelos títulos, experiência e grandes defesas que evitaram derrotas esse ano.

Romero: – Vega

Ruiz: – Hoje é difícil buscar o melhor jogador do Emelec, mas diria que é Bryan Angulo.

Mafer: – Cortez está em seu momento. Tem sido fundamental para marcar nos momentos decisivos.

León: – Dreer, o goleiro, é o capitão que estava em todos os últimos títulos. No meu critério é o jogador mais importante, mas também tem o zagueiro Vega, Angulo e Cortes, meia de criação.

Quem é este Guerrero do Emelec?
Xará do peruano, este é Fernando "Chiki" Guerrero, ponta esquerda do Emelec — Foto: Divulgação / Emelec

Xará do peruano, este é Fernando "Chiki" Guerrero, ponta esquerda do Emelec — Foto: Divulgação / Emelec

Riera: – É uma das contratações de mais renome do Emelec para 2019. Pagou muito por ele, comprou seus direitos porque em 2018 foi o melhor meia pela esquerda no Equador, pela LDU. O problema é que tem fracassado no Emelec. Não ganha um mano a mano, não faz bem as diagonais, não infiltra nem dá assistências, só passe para trás, não ajuda a marcar... Se esperava muito dele, mas não fez nenhuma partida boa ainda.

Romero: – É um dos elementos principais do ataque do Emelec. É muito ágil, mas ainda não mostra o que fez pela LDU no ano passado. É um dos homens que o Flamengo deveria ter maior cuidado. Porém, não é regular e nem sempre se destaca.

Ruiz: – É um jogador habilidoso em espaços curtos, se projeta muito bem pelas pontas e controla o lado esquerdo.

Mafer: – Ele também é um jogador que desequilibra, mas às vezes por ansiedade comete erros. Mas faz bons lançamentos, chuta bem de fora da área, tem potência, é canhoto...

E qual o ponto fraco do Emelec?

Riera: – Tanto a defesa como o ataque. Na defesa seus laterais são um problema, sobretudo pela esquerda, onde não encontra peça em alto nível. No meio de campo, os volantes não recuperam a bola. E no ataque seus extremos não ganham no mano a mano, por isso faltam chegadas para o camisa 9.

Romero: – Johnson deve melhorar na marcação, e Angulo tem que recuperar o "faro" de goleador.

Ruiz: – A equipe precisa melhorar a ansiedade. Quando não se tem um jogo coletivo se vê muitos erros.

Mafer: – Na defesa totalmente. Há um desequilíbrio pelo lado esquerdo. O zagueiro daquele lado não está funcionando muito, mas o técnico testou variantes. Possivelmente terá o retorno de Bagui, que estava lesionado.

León: – O ponto mais fraco que me parece é o meio de campo, apesar de ter sido o setor mais reforçado. Arroyo, Godoy, Queiroz... Mas não conseguiu se consolidar ainda.

O que sabem do time atual do Flamengo?

Riera: – Vimos as duas partidas da Copa do Brasil com Athletico-PR. Jogando como visitante, o Athletico-PR dominou bastante, me parece um bom time a nível coletivo. Flamengo passou uma imagem ruim na defesa. No jogo de volta vimos um Flamengo com mobilidade, variações, jogo coletivo pelas pontas, mas só nos primeiros 15 minutos. Mas sobretudo pelas individualidades, o nível, o Emelec está abaixo. Tanto titular como reserva.

Romero: – Sei que a torcida está inconformada pela recente eliminação na Copa do Brasil. E que a equipe deve se reforçar com Filipe Luís para o resto do ano.

Ruiz: – Se sabe que é uma equipe que chega com muitos reforços de nível europeu. Até por isso o Emelec pensa em sair um pouco a se defender.

Mafer: – Tem jogadores que desequilibram, que são ágeis e rápidos. E jogadores de hierarquia, que podem resolver mesmo sem ter muitas opções de gol. Foi o que aconteceu ano passado no jogo aqui, com Vinicius Junior.

León: – Aqui acompanhamos o futebol brasileiro e, obviamente, quando se fala de Brasil imediatamente fala dos grandes. O Flamengo do Zico, Romário, o Wagner Rivera, equatoriano que passou pelo clube. Por onde você olhar, é uma equipe a se temer. É um osso duro de roer, como nós dizemos por aqui.

O Emelec também tem um técnico europeu. Como é o trabalho dele?
Emelec também tem técnico europeu: o espanhol Ismael Rescalvo — Foto: Divulgação / Emelec

Emelec também tem técnico europeu: o espanhol Ismael Rescalvo — Foto: Divulgação / Emelec

Riera: – Técnico de estilo ofensivo, seu esquema-mãe é o 4-3-3, que busca que suas equipes tenham marcação alta, jogo com toques de primeira, recuperar a bola rápido e chegadas pelas pontas com laterais e pontas. Para ele, importa ganhar jogando bem, se vence jogando mal não fica satisfeito. Mas o estilo que pretende ainda não se vê em campo porque os jogadores estão em baixo nível, e em alguns setores não encontra peças adequadas. O time começa jogando bem, como na última partida, mas isso durou só 10, 15 minutos. Depois perdeu confiança e consistência por falta de qualidade na lateral esquerda, volantes e pontas.

Romero: – É um técnico de equipes menores, que "com pouco tenta fazer muito", como se diz. Deixou sair vários jogadores do elenco, em que pese o fato de Emelec disputar três torneios. Ainda tenta implementar uma ideia de jogo para seus jogadores. Não tem muito tempo no cargo para ser questionado demais.

Ruiz: – Chegou ao país após dirigir o Independiente Del Valle, onde promoveu muitos jogadores da base. Era uma equipe vistosa quando jogava, por isso Emelec se interessou por ele. Mas aqui está custando muito para ele implementar suas ideias pelo baixo rendimento de alguns jogadores.

Mafer: – Ele tem como filosofia o trabalho integral. É ofensivo e tem tido uns 70% de efetividade desde que assumiu o Emelec: ganhou quatro jogos e perdeu dois. O problema que vem tendo no campeonato nacional é que não tem atacantes, e a defesa pela esquerda é um pouco vulnerável. A contundência para marcar gols está faltando. O time tem a posse de bola bola, mas não consegue controlar a partida e ganhar nas últimas rodadas. Ele ainda não tem um time titular fixo.

León: – Tanto ele quanto seu auxiliar Juan são jovens aqui no futebol equatoriano, após pequena experiência no futebol colombiano. Nos últimos meses dirigiu o Independiente del Valle, de Quito, um elenco que fez nome por aqui pela ideia e forma como vinha jogando. Por isso o Emelec buscou a contratação do espanhol, que vem tendo problemas para implementar suas ideias aqui. Ele tem uma ideia clara de formação, mas algumas das peças não estão à altura para isso.

Fonte: Globo Esporte