As mexidas que renovaram as esperanças do Flamengo

As convincentes vitórias sobre Goiás e Palmeiras nesta semana marcaram a subida de produção que recolocou o Flamengo na briga pelo título. A quatro pontos do Internacional, a dois do São Paulo, um jogo a menos e confrontos diretos contra ambos, a parte matemática é alcançável. Faltava o desempenho. E ele cresceu consideravelmente após algumas mudanças táticas e de atitude da equipe em campo.

Ainda bastante pressionado, Rogério fez mexidas que causaram furor entre os torcedores num primeiro momento, mas mostraram-se acertadas, sobretudo diante do Palmeiras, um adversário mais qualificado em um jogo disputado num gramado em condições normais. Somamos a isso um aumento na concentração dos atletas e na intensidade em momentos chave dos jogos.

Diego recupera espaço e Arão é o novo zagueiro.

Após a derrota para o Ceará no Maracanã, Diego Ribas, um dos líderes do elenco, foi duro nas palavras. Segundo ele faltava atitude e seriedade para um time que pretende ser campeão. E estava certo. Naquele momento foi a voz de muitos torcedores e provavelmente ligou um alerta dentro do grupo de jogadores. Ganhou força e chances em sequência como titular.

Ceni tinha a mesma característica enquanto jogador. Certamente sabe ''ler'' esses símbolos dentro de um vestiário. O camisa 10, além da hierarquia que transmite naturalmente, entrou bem como segundo homem de meio-campo. Distribuiu os passes com mais velocidade do que vinha fazendo recentemente, mostrou-se intenso durante ao menos 60 minutos em cada um dos dois jogos, talvez o máximo que sua condição física permita hoje.

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O time que deve ser a base do Flamengo nas últimas rodadas do Brasileirão 2020
Imagem: Rodrigo Coutinho

Contra o Goiás, Gérson estava suspenso. Então Diego já seria o substituto natural. Mas diante do Palmeiras o camisa 8 esteve disponível, e aí é que veio a mudança mais polêmica. Willian Arão, volante que em diversos momentos da carreira se notabilizou mais pela participação ofensiva do que pela parte defensiva, atuou como zagueiro. E foi bem! Posicionamento correto e a virilidade necessária nos duelos individuais diante do alviverde paulista.

O recuo do camisa 5 tem como objetivo também melhorar saída de bola, agilizar a circulação na primeira linha e aumentar a mobilidade quando conduzi-la for necessário. Ao lado de Rodrigo Caio forma a dupla perfeita nesse aspecto. E de quebra o time ainda tem Gerson e Diego lado a lado no segundo momento de construção.

Willian Arão, por mais que tenha bom desempenho nas bolas aéreas, pode ser um ponto fraco da equipe diante de atacantes que saibam se sair melhor em lances desta natureza, ou aqueles que jogam de costas, usando a força e o choque com os defensores para se sobressaírem. O volante tem dificuldades nesse tipo de jogada. Uma questão para Rogério Ceni definir jogo a jogo, caso seja esta a ideia geral daqui pra frente.

Filipe Luís por dentro. Bruno Henrique na esquerda

Quando Domènec Torrent treinou o Flamengo, se repetia o mantra: ''Bruno Henrique tem que jogar ao lado de Gabigol e não pode ser secretário de lateral''. Uma grande bobagem! Como se os dois como dupla de ataque fosse a única forma de o Flamengo ter o melhor encaixe. Com o próprio Jorge Jesus, Bruno atuou como ponta pela esquerda num 4-2-3-1 em diversos jogos, em grande parte da final da Libertadores de 2019 inclusive.

Rogério repetiu essa formatação essa semana. Arrascaeta como um meia-central, onde teve seus melhores momentos nesta temporada. Everton Ribeiro partindo da direita para o meio. E Bruno Henrique um pouco mais fixo pela esquerda. O camisa 27 tem liberdade para entrar em diagonal, mas desde que o flanco esquerdo seja ocupado por outro jogador e o time não perca amplitude no setor.

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Aqui já estabelecido no ataque, o Flamengo tem Bruno Henrique bem aberto na esquerda, Filipe vindo por dentro e Isla dando amplitude na direita
Imagem: Rodrigo Coutinho

A mexida tem como objetivo dar a Bruno aquilo que ele sabe fazer de melhor. Aproveitar o espaço nas costas da defesa. Então ele se projeta em diagonal para receber em profundidade ou fica bem aberto para gerar situações de mano a mano com o lateral adversário, podendo botar na frente e aproveitar sua velocidade.

Outro encaixe que esta realidade permite é Filipe Luís atuando mais pelo meio. O experiente lateral não possui a mesma condição física de alguns anos atrás. Fazê-lo ocupar o corredor esquerdo em todo o jogo, como em algumas partidas com Rogério, no movimento de ''vai e vem'' durante os 90 minutos, não lhe dará a melhor condição para desempenhar seu futebol de classe.

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Na saída de bola do Flamengo, Filipe Luís têm se alinhado mais aos zagueiros e liberado Isla pela direita
Imagem: Rodrigo Coutinho

Agora ele tem se alinhado mais aos zagueiros na saída de bola, e vai se soltando à medida que a bola ganha o campo de ataque, mais voltado ao meio, e encostando em Bruno Henrique para acioná-lo em profundidade ou fazer tabelas. Filipe é um lateral construtor!

Melhorias importantes pendentes

Houve crescimento do time nos últimos dois jogos, mas ainda é pouco para cravar que o Flamengo tem um desempenho confiável em busca do título. Esse campeonato não ficará marcado na história como a competição de um time dominante. Todos os postulantes ao título têm problemas importantes. E o Flamengo, entre os seis primeiros, é o time que mais possui condições de minimizar tais questões pelo poderio técnico do elenco.

Recuperar Everton Ribeiro, manter a transição defensiva vista contra o Palmeiras, e aumentar a contundência diante do gol, são determinantes para se aproximar daquilo que encantou a todos na temporada passada. Contra Palmeiras e Goiás o time produziu novamente para marcar mais gols e não os fez, um retrato de quase todo 2020.

Mesmo com todos os erros cometidos pela diretoria, as contratações que decepcionaram e o comportamento amador dos atletas em diversos momentos da temporada, ainda dá para o rubro-negro buscar o oitavo título brasileiro de sua história.

Imagem: Rodrigo Coutinho

Fonte: Uol