Um sobrevivente: assim podemos definir Sewek Geber, de 80 anos. Nascido em 29 de novembro de 1940, na União Soviética, ele viu sua família fugir do nazismo alemão. Filho de pais judeus de Varsóvia, ele passou por cinco países até desembarcar no Brasil. Ao chegar ao porto do Rio de Janeiro, foi recebido por um primo e ganhou uma camisa do Flamengo. A partir daquele 11 de fevereiro de 1959, se tornou mais um torcedor rubro-negro.
- Quando desci da rampa, com a minha mala, um jovem se aproximou de mim, me abraçou e me disse a primeira palavra que escutei aqui nessa terra santa, que nem sei se é uma palavra portuguesa ou não. Ele falou "Flamengo". Essa foi a primeira palavra que eu escutei no Brasil. E como a história se repete: "uma vez Flamengo, Flamengo até morrer" - se recorda.
A Alemanha nazista perseguiu e matou cerca de seis milhões de judeus. Os pais de Sewek conseguiram fugir da Polônia a tempo e se refugiaram onde hoje é o Cazaquistão. Lá foi onde Sewek nasceu. Depois da guerra, a família voltou à Polônia em 1947 e recebeu uma casa.
- Quando entramos, ao lado da pia da cozinha tinha uma caixinha, parecia uma caixinha de charuto cubano, e ali tava escrito: Judenseife. Judenseife em alemão significa sabão de judeus. Eu me recordo que não passamos da porta. A minha mãe fez meu pai fazer uma cova, enterrar o sabão e rezar um kadish, que é uma reza pelos mortos - relembra.
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Foto de documento de Sewek Geber assim que ele desembarcou no Brasil. — Foto: Arquivo Pessoal
Em 1956, por conta de uma outra guerra (dessa vez entre Hungria e União Soviética), a família Geber teve que se refugiar em Israel. Saindo de Haifa, pegaram um navio que parou no Chipre e na Itália, até chegar ao Brasil.
- Meu primo se chama Isaac e era um flamenguista radical, era noite e dia. Comia Flamengo, bebia Flamengo, dormia Flamengo. Foi um dos grandes sustos que tomei na minha vida: quando vi a multidão de gente a pé com bandeiras, com camisa, cantando, indo pro Maracanã. Aí assisti o primeiro jogo com ele no Maracanã - disse.
O Brasil deu não apenas um amor futebolístico, mas também um outro amor: a brasileira Bela. Juntos tiveram quatro filhos e oito netos. No aniversário de 80 anos, a família toda se reuniu para dar um presente especial para Sewek: a atual camisa do Flamengo. E o Esporte Espetacular também o presenteou.
- Queria te parabenizar pelos 80 anos e te dizer que a gente fica muito honrado pelo carinho que a gente recebe, por ter flamenguistas como você. Que com tantas dificuldades, chegou ao Brasil e se apaixonou logo pelo nosso Flamengo - comentou Zico.
- Parabéns pela história de vida: uma história de superação, de muita força. Veio parar aqui no Rio de Janeiro, conheceu nosso Mengão e obrigado pela torcida, pelo carinho que o senhor tem com todos nós. Fica com Deus - parabenizou Everton Ribeiro.
- Eu sou Flamengo até morrer, sem incomodar os outros. Sou Flamengo pro meu uso: eu respeito, vivo no meio de amigos, de conhecidos atleticanos, cruzeirenses, a minha mulher é Fluminense e com todo respeito a tudo e a todos eu sou Flamengo - completou Sewek.
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Fotos e camisas do Flamengo são algumas das recordações de Sewek. — Foto: Arquivo pessoal