Novo diretor executivo do Flamengo em 2025, José Boto faturou o primeiro título apenas 36 dias depois de chegar ao país: a Supercopa do Brasil, conquistada em cima do Botafogo no último domingo. E o início com o pé direito do português é uma esperança da torcida para quebrar uma sina que acompanhou os executivos no comando do futebol rubro-negro na década passada.
— Pé quente (risos). Este título, acima de tudo, além de uma obrigação do Flamengo , que tem que entrar para ganhar, nos dá mais tranquilidade para fazer o trabalho que estamos a fazer. Esse é o principal: além de dar alegria a essa gente toda, a tranquilidade que nos dá para trabalhar — comemorou Boto, que por enquanto fez duas contratações: o atacante Juninho e o zagueiro Danilo.
José Boto com a taça da Supercopa do Brasil, seu primeiro título no país — Foto: Divulgação
Entre 2019 e 2024, o Flamengo conquistou 13 títulos, incluindo duas Libertadores e dois Campeonatos Brasileiros, e se transformou no clube mais vencedor do país no período. Só que nesse recorte, o carro-chefe do Rubro-Negro voltou a ser comandado por um vice-presidente de futebol (Marcos Braz), apesar da presença de um diretor executivo (Bruno Spindel) por trás.
O movimento do presidente Bap de concentrar o poder na mão de um diretor de futebol remunerado não é algo inédito. Antes de 2019, o clube tentou várias vezes ter executivos no comando, mas sem sucesso (veja abaixo). No entanto, esta é a primeira vez que o VP de futebol não tem ingerência no departamento. Boto não responde a Fabio Palmer. Bap separou a gestão do futebol e afastou vice-presidentes do Ninho do Urubu. Quem manda no CT é o diretor português.
Maior ídolo da história do Flamengo , Zico aceitou o convite da presidente Patrícia Amorim desde que não fosse remunerado pelo clube (seu salário era bancado por três empresas: Sky, Locanty e BMG). Mas ele ficou apenas quatro meses no cargo, tendo como vice de futebol Vinícius França, e não conquistou nenhum título. Acabou pedindo demissão após sofrer pressão de Leonardo Ribeiro, também conhecido como Capitão Léo, então presidente do Conselho Fiscal.
Vinícius (o mais alto, ao lado de Zico) na sua apresentação no Flamengo, em 2010 — Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem
No período, foram 11 contratações de jogadores, entre elas a volta do ídolo Renato Abreu e nomes conhecidos que não deixaram saudades, como Leandro Amaral e Deivid. Também contratou um treinador, Silas, que não foi bem, e demitiu outro, Rogério Lourenço.
Logo depois da saída de Zico (e também de Vinícius França), Patrícia Amorim acumulou a pasta de vice de futebol e reformatou o departamento com o ex-presidente Luiz Augusto Veloso como diretor executivo. Ao todo, ele ficou por um ano e três meses no cargo e conquistou o Carioca de 2011 de forma invicta, mas parou por aí. O nome nunca foi unanimidade internamente, e ele acabou demitido junto com o técnico Vanderlei Luxemburgo e toda a cúpula do futebol após Patrícia detectar que o clima entre jogadores e técnico estava deteriorado.
Luiz Augusto Veloso com Patrícia Amorim e Vanderlei Luxemburgo no Flamengo — Foto: Divulgação / Fla Imagem
No período, foram 15 jogadores contratados, entre eles o bombástico reforço de Ronaldinho Gaúcho, o astro Thiago Neves e a sonhada volta de Vagner Love. Também contratou um treinador, Vanderlei Luxemburgo, e demitiu outro, Silas.
A escolha para o sucessor no cargo foi uma aposta em outro ex-jogador: Zinho. Mas também não deu certo. Ele assumiu em maio, com Paulo César Coutinho na vice-presidência de futebol, mas ficou só oito meses no cargo e não conquistou títulos. Com a troca da diretoria no final do ano (Eduardo Bandeira de Mello venceu as eleições), o diretor não aceitou reduzir o salário e passar a ser gerente do novo executivo contratado, Paulo Pelaipe.
Wellington Bruno apresentado pelo diretor de futebol Zinho em 2012 — Foto: Fla Imagem / Divulgação
No período, Zinho buscou 12 jogadores, entre eles os retornos de Ibson e Liedson e o futuro artilheiro Hernane Brocador. Também foi quem trouxe de volta Adriano Imperador, mas numa passagem sem entrar em campo e marcada por indisciplinas. Ele também contratou um técnico, Dorival Júnior, e demitiu outro, Joel Santana.
O diretor foi a aposta do primeiro mandato da famosa "Chapa Azul", que ficou marcada por promover uma reconstrução financeira no Flamengo . Em termos de títulos, foi o executivo com poder com melhor resultado: conquistou a Copa do Brasil de 2013 e o Carioca de 2014. Mas também não durou muito: ficou um ano e cinco meses na função, tendo como vice de futebol Wallim Vasconcellos.
Paulo Pelaipe apresenta Elano no Flamengo em 2014 — Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem
Ele recebeu do presidente a missão de enxugar a folha salarial, que saiu de R$ 10 milhões para R$ 3 milhões. A boa campanha na Copa do Brasil o manteve no cargo, mas em maio de 2014 Paulo foi demitido junto com Jayme de Almeida, treinador que havia efetivado e tinha o seu respaldo, mesmo com o desgaste na condução da equipe.
No período, buscou no mercado 22 reforços, com destaque para o volante Elias. Mas também com grandes decepções como os meias Carlos Eduardo, contratado a peso de ouro, e Lucas Mugni, joia argentina que nunca vingou. Contratou ainda dois treinadores, Jorginho e Mano Menezes (além de efetivar Jayme de Almeida), e demitiu três: Dorival Júnior, Jorginho e Mano Menezes.
O diretor foi contratado com um currículo de tetracampeão paranaense e duas finais de Copa do Brasil. Mas também não conseguiu repetir o sucesso no Flamengo e ficou apenas seis meses no cargo, período em que teve o próprio presidente Bandeira de Mello acumulando a pasta do futebol até a chegada de Alexandre Wrobel como vice-presidente.
Felipe Ximenes e Vanderlei Luxemburgo durante treino em 2014 — Foto: Pedro Martins / Ag. Estado
Ele não ganhou títulos e foi demitido porque tinha relacionamento distante com o técnico Vanderlei Luxemburgo e porque o "sonho de consumo", que era Rodrigo Caetano, havia ficado livre no mercado no fim do ano. Naquele semestre, Ximenes contratou apenas quatro jogadores, com destaque para o atacante Eduardo da Silva, brasileiro naturalizado croata e que jogava pela seleção do país. Também trouxe um técnico, Vanderlei Luxemburgo, e demitiu outro, Ney Franco.
O sonhado executivo de Bandeira de Mello foi quem ficou mais tempo no cargo: três anos e três meses. Mas conquistou apenas o Carioca de 2017 (de forma invicta) no período, em que o clube teve cinco vices de futebol diferentes, incluindo o próprio presidente acumulando a pasta e outros quatro: Alexandre Wrobel, Gerson Biscotto, Flávio Godinho e Ricardo Lomba. Seu prestígio interno foi caindo com o passar do tempo e acabou demitido junto do técnico Paulo César Carpegiani, ao não resistir à pressão após a eliminação na semifinal do Carioca de 2018 para o Botafogo.
Cuéllar apresentado por Rodrigo Caetano no Flamengo em 2016 — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo
Durante os mais de três anos, Caetano contratou 42 jogadores, com destaque para Paolo Guerrero, considerado o principal jogador do país em 2015, e os futuros ídolos Diego Ribas e Everton Ribeiro. Mas também buscou jogadores que não deixaram saudades, como o goleiro Alex Muralha e o meia Conca. Em relação aos treinadores, trouxe Cristóvão Borges, Oswaldo de Oliveira, Muricy Ramalho, o colombiano Reinaldo Rueda e Carpegiani (além de efetivar Zé Ricardo), e demitiu seis: Vanderlei Luxemburgo, Cristóvão Borges, Oswaldo de Oliveira, Muricy Ramalho, Zé Ricardo e Reinaldo Rueda.
Antes de Boto, o último executivo no comando do futebol foi Carlos Noval. Até então homem forte da base rubro-negra desde 2010, o diretor assumiu o profissional e ficou um ano e cinco meses no cargo. Porém, foram só nove meses com o poder nas mãos, tendo Ricardo Lomba como vice de futebol, e nenhum título no recorte. Com a troca da diretoria no fim de 2018 (Rodolfo Landim venceu a eleição), Marcos Braz voltou ao clube como vice-presidente da pasta e tomou à frente do planejamento e das contratações para 2019.
Vitinho apresentado por Noval no Flamengo em 2018 — Foto: Gilvan de Souza / CRF
Noval ficou esvaziado no cargo depois da criação do Conselho do Futebol (popularmente conhecido como "Conselhinho" no primeiro mandato de Landim). Após Bruno Spindel assumir como executivo (com uma função mais de bastidores), o diretor foi remanejado como gerente de transição da base.
Nos noves meses em que ficou no poder, Noval fez apenas três contratações, com destaque para o meia-atacante Vitinho, que se tornou na época o reforço mais caro da história do clube ao ser comprado por 10 milhões de euros (R$ 44 milhões na cotação de 2018) do CSKA, da Rússia. Ele foi quem efetivou Maurício Barbieri (e depois o demitiu) e trouxe de volta Dorival Júnior.
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