Aos 40 anos, goleiro Felipe é titular de time em Luxemburgo e analisa semifinal Corinthians x Flamengo

O goleiro Felipe é figura importante na história dos dois clubes que decidem a semifinal da Copa do Brasil de domingo. Conquistou essa competição tanto por Flamengo quanto por Corinthians. Como o atleta ganhou destaque no país a partir de 2007, você certamente imagina que ele já pendurou as luvas, correto? Errado. Aos 40 anos, ele foi surpreendido com um proposta do futebol europeu e está muito feliz no Differdange, de Luxemburgo.

- Lugar que a pessoa conhece pouco em relação a futebol, eu também não conhecia muito, mas estou gostando bastante. O campeonato é bastante competitivo, estou conseguindo quebrar várias marcas. A gente conseguiu bater uma marca de quase 100 anos, que foram sete jogos consecutivos sem sofrer gols. Então cheguei aqui e caí nas graças da torcida e do grupo.

- Estou conseguindo ajudar bastante, até mais do que eu imaginava pelo pouco tempo que estou aqui. Estou apenas há três meses aqui, fui eleito o jogador do mês de setembro. Estou muito feliz, motivado. Estamos em primeiro, são nove jogos, oito vitórias, um empate e apenas um gol sofrido. E de pênalti ainda. E eu já defendi um pênalti também.

Goleiro Felipe está no Differdange, de Luxemburgo — Foto: Divulgação/Ideallize Comunicação

Convidado a dar um palpite, Felipe afirmou que os rubro-negros levam vantagem por terem vencido o jogo do Maracanã por 1 a 0 e também pelo ânimo renovado diante da saída de Tite e a chegada de Filipe Luís, troca elogiada pelo atleta de 40 anos.

- Futebol muda muito rápido. Até antes desse jogo entre Flamengo e Corinthians (do Maracanã), o Corinthians vivia momento melhor, e o Flamengo conturbado com troca de treinador, isso e aquilo. Corinthians com a chegada do Depay, a torcida comparecendo, e o Flamengo fez 1 a 0 no primeiro jogo. Filipe Luís já conseguiu vencer no primeiro jogo. E o momento que era bom do Corinthians passou para o Flamengo - disse Felipe, em entrevista gravada no último dia 10, antes do Fla-Flu.

- Se o jogo fosse antes, eu acharia que o Corinthians tinha muito mais chances se o Flamengo não tivesse trocado o treinador. Acho que foi corajosa a atitude da diretoria, não sei se é correta, mas foi corajoso tirar um treinador do peso do Tite faltando dois jogos para uma semifinal da Copa do Brasil. Todo mundo sabe que é mais fácil tirar um do que 30. E o Tite já estava há um ano no Flamengo , e não teve um momento que você falava que o Flamengo estava jogando bem.

Além de citar que o Rubro-Negro não jogava bem sob orientação de Tite, Felipe destacou a chegada do xará Filipe Luís. O fato de o ex-lateral ter feito parte do elenco até dezembro de 2023 é um ponto positivo na visão do goleiro do Differdange .

- Se o Flamengo tivesse resultado, o treinador não teria saído. E colocou um cara que conhece o elenco melhor do que ninguém. Em dois jogos, fez muito. Ganhar do Bahia em Salvador não é fácil, com o elenco muito forte que o Bahia tem. O momento do Flamengo , que há duas semanas era ruim, mudou tudo. A vantagem é pequena, mas não deixa de ser vantagem. E o Corinthians tem a questão do Brasileiro, que está influenciando também. Eu estava no rebaixamento do Corinthians. Eu fui rebaixado com o Corinthians em 2007. Mas não chega nem perto do elenco que eles têm hoje (risos).

- O Depay não pode jogar, vai ser um jogo difícil, mas creio que o Flamengo tem um pouco mais de chances de chegar lá e sair classificado. Mas não vai ser fácil, a torcida do Corinthians é fanática também e vai lotar. Eles vão dar a vida, e quem vai ganhar é o torcedor.

Presente de lado, Felipe foi perguntado sobre a emoção de conquistar a Copa do Brasil com os dois clubes mais populares do Brasil. Para ele, o título vencido pelo Corinthians em 2009 teve um sabor especial por ter representado uma superação no lado individual. Já o com o Flamengo , em 2013, ele classifica como surpreendente e o atribui especialmente à força da torcida rubro-negra. Leia nos tópicos abaixo.

Título pelo Corinthians, em 2009, ao lado do Fenômeno

- No Corinthians, eu acho que tenho um peso maior porque no anterior a gente foi vice para o Sport, e eu fui um dos mais crucificados naquela final. No ano seguinte, com o Ronaldo Fenômeno, tinha um peso a mais. A gente conseguiu um título importante em cima do Internacional, que todos falavam que era o grande favorito. Você ganhar a Copa do Brasil e poder jogar o centenário na Libertadores acho que foi tudo bem certinho.

- Ronaldo certamente foi o grande destaque, mas tive minha parcela, principalmente no primeiro jogo. Tinha o gol fora ainda na Copa do Brasil, e a gente no Pacaembu venceu por 2 a 0, e eu fiz umas cinco ou seis grandes defesas. Então a emoção é muito grande de conquistar a Copa do Brasil, o peso que eu carregava pelo vice-campeonato de 2008. Era de suma importância aquela Copa do Brasil para mim.

Felipe, Felipe Corinthians, goleiro Felipe — Foto: Marcos Ribolli / GloboEsporte.com

Título pelo Flamengo em 2013

- Com o Flamengo é aquele título que ninguém esperava. Acho que nem o próprio torcedor do Flamengo acreditaria que aquele time de 2013, que brigou até a última rodada para não ser rebaixado, iria conquistar um título daquele tamanho. Até pelos concorrentes que enfrentamos. Pegamos o Cruzeiro, que viria a ser bicampeão brasileiro. Pegamos o Botafogo do Seedorf, que terminou bem o Brasileiro. Pegamos o Goiás do Walter, que terminou bem colocado. E na final pegamos o Athletico-PR, que, se não me engano, esses quatro foram top-5 do Brasileiro (o Cruzeiro foi campeão, o Athletico terminou em terceiro, o Botafogo, em quarto; e o Goiás, em sexto).

- Não sei a ordem (das colocações), mas ninguém acreditava, nem o mais fanático flamenguista acreditava. Mas é aquele negócio: quando a torcida acredita, você sempre tira um algo mais. A gente não tinha nenhum craque, tinha um time de operário e formiguinhas. Mas tinha o Hernane num ano iluminado, fez quase 40 gols no ano. Tinha o Elias, que era o volante, mas era o nosso principal centroavante (risos). Léo Moura também jogando muito. Então a gente acabou surpreendendo a todos e, sem dúvidas, o grande diferencial para nós foi a torcida.

Felipe, ex-goleiro do Flamengo — Foto: Portal WSCOM

- Naquele jogo do Cruzeiro, em que a gente fez o gol com o Elias quase nos acréscimos, a partir dali a torcida acreditou naquele grupo limitado. A gente conseguiu fazer três grandes jogos e chegar na final e conquistar um título num Maracanã com quase 80 mil pessoas é uma noite que eu nunca vou esquecer.

Chegada ao Flamengo , em 2011

- Cheguei em 2011 com um peso porque tinha que substituir um ídolo do clube. Quando cheguei, eu tinha que mostrar que não era apenas um bom goleiro, mas que poderiam contar comigo nas decisões por pênaltis. Até porque o Bruno tinha se destacado nos pênaltis, e eu pude me destacar contra Fluminense, Botafogo e Vasco nos pênaltis. Tirei um peso ali. Fizemos um bom Brasileiro em 2011, poderíamos até ser campeões, mas ficamos oito ou nove rodadas sem vencer. Mesmo assim chegamos à Libertadores. Com aquele timaço, não conquistamos grandes títulos.

Melhor momento da carreira

- Sem dúvida o meu melhor como atleta profissional foram os quatro anos de Corinthians e os quatro anos de Flamengo . Lógico que você vive altos e baixos, mas foram muito mais altos do que baixos em ambas as equipes. Conseguir ganhar esse título em um clube grande a visibilidade é bem maior.

Elogios aos goleiros do Flamengo e críticas ao rodízio de Tite

- Os dois estão bem servidos, eu gosto muito do Rossi. Acho que esse negócio de o Tite botar um goleiro ou outro fica difícil. Se chega no fim de semana, o Rossi toma um gol meio duvidoso e na quarta-feira o Matheus Cunha toma um gol duvidoso, a torcida já vai falar que não presta nem um e nem outro. É uma profissão totalmente diferente. Falo por ser goleiro. O goleiro quer sempre estar jogando. Quanto mais joga, melhor. O Rossi vinha bem.

- Aqui é assim na Europa. Semana passada, a gente jogou a Copa de Luxemburgo, e eu nem fui relacionado porque aqui é normal o goleiro (principal) não jogar. Mas aqui é normal, é cultura aqui. No Brasil, é difícil você implantar uma cultura dessa. Se perguntasse ao Rossi, certamente ele gostaria de jogar. Nada contra o Matheus Cunha, que eu acho um excelente goleiro e com um futuro muito brilhante, mas goleiro quer sempre jogar. Quem lembra que o Ceni fez mais de 1000 jogos pelo São Paulo sabe que é porque jogou todos os jogos.

Feliz por Hugo: "Calando a boca de muita gente, acho que o Flamengo se arrependeu"

- Vi o Hugo pequeno, tem a cara do Corinthians. Melhorou muito a cabeça, o problema do Hugo sempre foi a cabeça. Debaixo das traves é um dos melhores goleiros do Brasil. Está mostrando e já mostrou em Portugal. Agora está com a cabeça muito boa. Ele, com a cabeça boa, é goleiro de Seleção. Assumiu a vaga do Cássio e do Carlos Miguel, que já estava virando ídolo do Corinthians.

- Chega meio desacreditado por grande parte da torcida e por aqueles jornalistas que são mais torcedores do que jornalistas que vinham crucificando o cara antes de ele jogar. Depois que ele arrebentou, agora eles dão tapinha nas costas. É nível de Seleção. Se continuar nessa batida, jogando bem num dos maiores clubes do Brasil, uma hora vai ter que chamar o Hugo.

- É um garoto que merece, está calando a boca de muita gente. Acho que o Flamengo hoje até se arrepende do valor que botou a multa, porque chega a ser irrisório. Acho que o próprio Flamengo não acreditava que ele iria arrebentar. Eles devem ter se arrependido, mas como já estava no contrato não tinha como voltar atrás.

Surpreso com proposta do Differdange, de Luxemburgo

- Não esperava, até porque eu estava jogando a Série C com o Sampaio. Na Europa, eles não ligam para idade, querem saber se a pessoa está rendendo. Eu estava muito bem no Sampaio, chegamos na terceira fase da Copa do Brasil e fomos campeões estaduais. Aos 40, você sair para a Europa de novo foi uma surpresa boa para mim. Não pensei duas vezes, dois anos de contrato. Aqui a gente treina muito menos do que no Brasil, joga uma vez por semana, sempre tem folga. Nos jogos da seleção temos folga. Aqui dá para esticar bastante a carreira.

- Infelizmente o Sampaio caiu para a Série D. Fico imaginando que certamente minha carreira teria se encerrado. Você estar numa Série C e cai para a D aos 40 anos, dificilmente você consegue algum mercado. Está sendo muito bom para mim, aqui tem bastante brasileiro e português. O idioma atrapalha, mas estou fazendo aulas. Nossa comissão técnica é toda portuguesa, temos cinco brasileiros e seis portugueses no time. O idioma que prevalece é o português, então a gente se sente em casa. Quando dorme, você sonha, pede novas oportunidades, essa apareceu, e estou tentando aproveitar da melhor maneira possível.

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Fonte: Globo Esporte