Ao vencedor, as batatas; mas qual o legado do Brasileiro-20?

Esqueçam o "padrão ouro" de 2019. Pensem de 2018 para trás.

Qual o legado do Brasileiro-20?

Qual?

Podemos ter já hoje o campeão da temporada. Seria (se terminar hoje!) o improvável Inter, com suas perdas, despedidas e crises, mas com um técnico que carrega a cara de muitas conquistas coloradas. Muitas linhas serão então escritas sobre a trajetória do time: prometo (deixem acontecer).

Sim, há algum tempo não tínhamos um campeonato com tantas oscilações. Quem defende e advoga pelo ponto corridos, o Brasileiro-20 é quase a prova de que temos mesmo 38 finais... Por mais que se queira atribuir uma emoção palpitante (que me parece bem forçada), é verdade também que conseguimos ter um Brasileiro contagiantemente morno .

Antes que comecem as pedras virtuais, não se trata de amenizar a emoção dos vencedores. Como diria Quincas Borba, "ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor as batatas". Ponto, fim, parabéns.

Aqui trata-se de registrar um desconforto com um torneio que começou com hospitais de campanha à porta de vários estádios, trata-se do desconforto de ter assistido a mais de 360 minutos de silêncio (muitas vezes assistimos anestesiados) pelos mais de já quase 245 mil mortos pela Covid-19 (desde que a bola rolou em 9 de agosto, foram mais de 140 mil), trata-se de (estatística que está sendo calculada pelos sindicatos dos clubes) de reportar rodada após rodada que mais de 60% do jogadores que fazem o torneio já terem sido infectados por esse vírus desconhecido, eventualmente normal, que, sim, não é uma gripezinha.

Senhores flamenguistas e colorados, o título é o legado que alguns de vocês carregarão para eternidade. Não é sobre isso. É sobre uma incômoda sensação de que não aprendemos nada com o que aconteceu.

Se 2020 foi um ano complicado, difícil, não há como esperar por um milagre a partir da semana que vem com os Estaduais. Infelizmente, sem spoiler do futuro, não há milagre.

Clubes e federações, com a omissão injustificável e inconcebível dos atletas e treinadores, aceitaram retomar as atividades de julho passado como se não existisse pandemia, como se o movimento de translação da Terra tivesse sido afetado e o ano tivesse sido esticado, como se o velho normal (que já não era dos melhores) pudesse ser retomado e engolido sem efeitos colaterais.

Assim, emendamos as partidas restantes dos Estaduais com um Brasileiro de 38 rodadas, com os mata-matas da Copa do Brasil, com os jogos da Sul-Americana/Libertadores e Mundial conforme programados em 2019.

O erro está claro no cansaço, nas infecções, nas contusões, no nível técnico dos jogos, nas contas em vermelho (obviamente que, diferentemente das apostas dos dirigentes, não foi possível manter a arrecadação de patrocínios, de TV e bilheteria), nas entrevistas de 10 em 10 envolvidos na disputa-maratona ...

Está claro? Não para quem manda.

Vamos retomar tudo, tudinho, de novo, sem férias, a partir de 7 de março e sem as férias de 100 dias do meio do ano passado.

Por quê?

Porque nosso legado aqui parece ser uma amnésia coletiva.

Parabéns aos envolvidos.

PS: Não falei de propósito sobre o GACIBOL que foi a marca da peleja. Falarei em breve.

Imagem: Marcelo Cortes/Flamengo

Fonte: Uol