Já que o jogo ficou marcado por um "penalti de sinuca", esta análise vai flertar ao longo do texto com metáforas do outro esporte que também tem bolas em um "tapete" verde. O Flamengo se recuperou dos dois tropeços seguidos no Maracanã e voltou a vencer no Campeonato Brasileiro: 2 a 1 sobre o Criciúma no último sábado no Mané Garrincha. Mas foi sofrido, tipo aquela tacada em que a bola roda na caçapa e fica girando devagarinho, parece que vai parar e de repente cai, chorada!
O lance de bilhar nos minutos finais rouba os holofotes, mas não pode esconder os erros e acertos rubro-negros. Com a tão esperada volta de Arrascaeta e De la Cruz ao time, esperava-se uma equipe mais dominante e criativa, mas não foi isso que aconteceu no primeiro tempo. O Flamengo parecia ansioso, com jogadores errando fundamentos bobos, e demorou 14 minutos para construir o seu primeiro ataque no jogo. E viu o Criciúma ser melhor e ir para o intervalo não só com a vantagem no placar, também com mais finalizações: oito contra seis.
O Flamengo teve apenas duas chances de gol na primeira etapa: uma com Pedro aos 14 minutos, após linda trama de De la Cruz com Ayrton Lucas, em que chutou por cima e poderia ter até tocado para Cebolinha livre (veja na imagem abaixo) . E outra no fim com Fabrício Bruno, aos 46, após uma sobra de escanteio na área . Obviamente é preciso levar em consideração a questão do péssimo gramado do Mané Garrincha, mas isso não foi a principal causa do baixo rendimento.
Só De la Cruz estava conseguindo fazer pressão na saída de bola do Criciúma; Arrascaeta e Gerson participavam pouco, Pedro estava bem marcado... Cebolinha era a exceção e infernizava a defesa adversário pelo lado direito. E o gol de Rodrigo, do Criciúma, aos 34 minutos deixou os jogadores ainda mais nervosos em campo. Afinal, o Flamengo de Tite tinha só uma virada em 10 oportunidades.
Scout - Flamengo x Criciúma
Quesito | Flamengo | Criciúma |
Posse de bola | 59% | 41% |
Finalizações | 15 | 14 |
Chances de gol* | 7 | 2 |
Passes (precisão) | 486 (86%) | 300 (79%) |
Desarmes | 14 | 23 |
Faltas | 12 | 21 |
Escanteios | 7 | 4 |
Impedimentos | 0 | 1 |
As vaias no final do primeiro tempo davam o tom de que as coisas não estavam funcionando, mesmo com o meio de campo rubro-negro considerado ideal, com Pulgar, De la Cruz, Arrascaeta e Gerson. Tite deu um voto de confiança e voltou do intervalo com a mesma formação. Mas a paciência não durou muito, e ao nove minutos ele trocou David Luiz (já amarelado) e Ayrton Lucas por Léo Pereira e Viña.
A mexida na lateral funcionou, e o Flamengo passou a ter mais construção por dentro com o ala uruguaio em campo. Viña entrou muito bem e participou de lances decisivos: deu a bola para Arrascaeta sofrer pênalti; deu a pré-assistência no gol de Pedro e criou a jogada de um gol perdido por Gabigol . Além disso, Tite foi corajoso ao tirar Pulgar, que fazia boa partida, para recuar De la Cruz e colocar Luiz Araújo aos 23.
A tacada de Tite mudou o jogo. Com um homem a mais e um time mais criativo em campo (Arrascaeta passou a participar mais), o técnico deixou o Criciúma em uma "sinuca de bico" (metáfora do bilhar que significa uma situação sem saída) . O técnico adversário começou a trocar peças para ter mais fôlego na marcação, mas a qualidade da reposição não manteve a pegada. O Flamengo arrancou o empate, e logo depois Tite foi para o tudo ou nada com Gabigol na vaga de Gerson.
Os números do segundo tempo traduzem o crescimento do Flamengo . O time finalizou nove vezes contra seis do Criciúma, que não levou perigo, e teve cinco chances de gol: o pênalti perdido por Pedro aos 18 minutos; a cabeçada de Pulgar no travessão no lance seguinte; o bonito gol do camisa 9 após excelente movimentação aos 30; o chute por cima de Gabigol aos 37 (veja na imagem abaixo) e o pênalti convertido pelo camisa 99 aos 43 .
Por falar no pênalti, Gabigol mostrou que mesmo em baixa ainda tem "aquilo roxo" para momentos decisivos. Havia a pressão de evitar um terceiro tropeço seguido em casa, o que deixaria mais distante da briga pelo título, e Pedro já havia perdido um no jogo. Mas o camisa 99 pediu a bola e bateu muito bem, deslocando o bom goleiro Gustavo. E mostrando que ainda pode ser útil ao Flamengo em seu possível último ano no clube.
E para continuar no tema sinuca, Gabigol encaçapou a segunda virada da "Era Tite". O desempenho ainda precisa melhorar consideravelmente, a bola aérea defensiva voltou a ser um problema, mas o resultado dá tranquilidade para o técnico tentar reencaixar essa equipe, que tem muito potencial com sua força máxima e precisa agora trocar o bilhar pelo brilhar . Os jogadores voltaram ao Rio de Janeiro logo após a partida e agora iniciam a preparação para enfrentar o Vitória na próxima quarta-feira, às 20 (de Brasília), no Barradão.
Assista: tudo sobre o Flamengo no ge, na Globo e no sportv