Análise: Renato Gaúcho era um erro previsível, e o Flamengo não se cansa de cometê-los

Rodolfo Landim chegará ao fim de seu primeiro mandato, em dois meses, como o presidente que capitaneou o Flamengo no segundo melhor momento da história do clube. Não é pouco. O tempo, porém, mostra que o dirigente, apesar da competência de sua gestão em diversas pastas — e de bons acertos no Departamento de Futebol, em especial na contratações de jogadores —, deve parte significativa de seu sucesso ao acaso. Ou a Jorge Jesus, se o nome acaso for muito genérico.

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O primeiro sinal foi dado ainda antes da posse, quando da escolha de Abel Braga para iniciar o novo ciclo à frente de um time de orçamento invejável para contratações. Trata-se de um ótimo sujeito, de currículo vencedor, mas cujas ideias sobre futebol já estavam há alguns anos em descompasso com o que se pratica na elite do jogo. Ele achava que Arrascaeta não poderia jogar com Gabigol, Bruno Henrique, Everton Ribeiro & cia — lembra? Um Domènec para lá, um Ceni para cá, Renato é a prova mais recente e contundente dessa dificuldade para acertar. Os títulos pós-Jesus (Brasileirão, Supercopa e Carioca) pareceram mais obra da inércia de um superelenco do que de um projeto de time.

Sob o risco de ser acusado de engenheiro de obra pronta, argumento que não era difícil prever o insucesso deste trabalho. Renato é um vencedor, o que não se questiona, mas o único momento em que seus times apresentaram futebol semelhante às pretensões do Flamengo, em estilo e eficiência, foi nos dois primeiros anos da passagem mais recente pelo Grêmio. Antes disso, suas equipes não tinham a identidade chancelada pelos rubro-negros; depois, os mecanismos se tornaram previsíveis, e o nível das atuações despencou até que deixasse o cargo, em abril, após uma eliminação na fase preliminar da Libertadores.

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Renato Gaúcho era a escolha errada porque é um negacionista. Nega o valor do conhecimento e nega a evolução do jogo. Nega-se a falar sobre questões táticas em entrevistas e nega-se a viajar com o time reserva para partidas que julga menos importantes. Um profissional que trata com descaso questões fundamentais do seu ofício não pode ser compatível com um clube de faturamento na casa do bilhão e que se orgulha com razão de práticas modernas em outros departamentos — seu rótulo mais marcante, o de bom gestor de vestiário, já era um valioso alerta…

A 90 minutos (contra um inconstante Palmeiras) do título da Libertadores, Renato pode encerrar seu primeiro ano no Flamengo de maneira triunfal. Mas taça nenhuma esconderá a pobreza do time em suas mãos. Ou diluirá a frustração de ver o clube, apesar de toda sua pujança, preso aos mesmos ciclos de sempre. Quinze meses depois da saída de Jesus, o Flamengo já teve três treinadores diferentes. E não dá para dizer que abandonou o patamar do início da gestão.

Fonte: O Globo