Análise: Paquetá encontrará Milan em reconstrução, mas com espaço para jogar

O Milan não é mais um gigante adormecido. Ausente das últimas cinco edições da Liga dos Campeões (incluindo a atual), o clube italiano vive um processo de reconstrução sob nova direção. Tem recuperado o prestígio com o seu torcedor aos poucos e planeja, em três anos, disputar títulos com a Juventus – a chegada de alguém do potencial de Lucas Paquetá é um pequeno indicativo de que as coisas vão bem.

O cenário é propício para o jovem de 21 anos. Além da curiosidade criada por sair direto do Brasil - o último foi Kaká -, o brasileiro mais influente do Milan não é jogador, e sim diretor: Leonardo, responsável pelas negociações com o Flamengo.

É relevante também o fato de Paquetá ter custado € 35 milhões, com a possibilidade de um incremento de € 10 milhões de acordo com sua performance. Em tempos de Fair Play Financeiro, não chega a ser um número desprezível.

Lucas Paquetá seguirá vestindo o vermelho e preto no Milan, mas com listras verticais na camisa — Foto: André Durão

Lucas Paquetá seguirá vestindo o vermelho e preto no Milan, mas com listras verticais na camisa — Foto: André Durão

E em campo?

Paquetá encontrará um time com titulares definidos do meio para frente (Biglia, Kessié, Bonaventura, Suso, Çalhanoglu e Higuaín), mas tem a vantagem de se encaixar em qualquer posição ofensiva no esquema do técnico Gattuso, ex-volante do clube entre 1999 e 2012. A polivalência e contribuição defensiva devem lhe render minutos em campo, mesmo que o desembarque em Milão no auge do inverno europeu, em janeiro, exija uma adaptação rápida.

- Paquetá chega para jogar no Milan . Hoje Gattuso tem alternado entre 4-3-3 e 4-2-3-1, e em ambas as situações quem deve rodar é o Bonaventura. O Paquetá tem, entre seus trunfos, a versatilidade que o Jack (Bonaventura) também tem, mas com um acréscimo de qualidade inegável. Nesse primeiro momento, contará a sua capacidade de adaptação a uma nova realidade, mas ele já mostrou atributos suficientes para conquistar a titularidade. O trio Çalhanoglu-Paquetá-Suso amplia a força ofensiva do Milan. Higuaín, que já começou a temporada em alta, tende a fazer ainda mais gols – opinou Nelson Oliveira, do site especializado em futebol italiano “Calciopedia”.

O argentino tem seis gols em sete jogos na temporada - três deles em assistências de Suso.

Time titular do Milan do meio para frente: Paquetá poderia entrar nos lugares de Bonaventura ou Çalhanoglu — Foto: GloboEsporte.com

Time titular do Milan do meio para frente: Paquetá poderia entrar nos lugares de Bonaventura ou Çalhanoglu — Foto: GloboEsporte.com

Com Paquetá, o Milan reforça a ideia de preparar o terreno para o futuro. O goleiro Donnarumma, dono do segundo maior salário do elenco (só atrás de Higuaín), tem apenas 19 anos. Cutrone, promissor reserva de Pipita, 20; Kessié e Calabria, 21; Romagnoli e Castillejo, 23; Caldara, Conti, Çalhanoglu e Suso, 24. É uma base com boa margem de evolução.

Ao mesmo tempo, a paciência da torcida já está esgotada. Ela vê um esforço dentro do clube para voltar a ser o grande de outrora, mas não admitirá ficar mais temporadas longe da Liga dos Campeões. Até pela questão financeira: investir está ligado a aumentar receitas, e por isso a presença no principal torneio do continente é fundamental.

Desempenho do Milan no Campeonato Italiano
Clube acumulou campanhas medíocres nas últimas cinco temporadas

Em junho, o Milan chegou a ser excluído de competições europeias por dois anos, mas conseguiu reverter a punição da Uefa no mês seguinte através de um recurso no Tribunal Arbitral do Esporte.

O clube vivia período de grande turbulência com a troca de dono – o chinês Li Yonghong deixou a presidência por não cobrir as dívidas da gestão anterior (Berlusconi) e tampouco saldar o empréstimo de € 300 milhões (R$ 1,3 bilhão na cotação atual) junto ao fundo americano Elliott, que assumiu os rossoneri e promete enfim dar maior estabilidade financeira.

- O fundo quer recuperar o dinheiro que deu ao Li Yonghong com juros e correção monetária. Ao contrário do presidente anterior, que se mostrou um picareta (como já se especulava anteriormente), o fundo sabe gerir uma empresa. Não à toa, contratou dois caras de respaldo internacional para tocar esse momento de transição. Leonardo e Gazidis (ex-Arsenal) são dois executivos de altíssimo nível e, se acertarem nas contratações (como o Léo já fez, com o Paquetá), o Milan tem plenas condições de se acertar e voltar a ser extremamente competitivo - explicou Nelson Oliveira.

Paolo Maldini também subiu no barco como um diretor de estratégia e desenvolvimento, cargo criado especialmente à lenda do Milan. Rumores indicam que Kaká pode ser o próximo a se juntar à diretoria, mas ainda sem uma função definida. Ele esteve em Milão recentemente para conversar com Leonardo e Maldini.

Leonardo, Kaká e Maldini conversam em treino do Milan — Foto: Reprodução / Facebook

Leonardo, Kaká e Maldini conversam em treino do Milan — Foto: Reprodução / Facebook

No balanço, o Milan teve prejuízo no último triênio superior a € 30 milhões, o que é passível de punição pelas regras do Fair Play Financeiro. Gastou alto em contratações e salários, tendo hoje a segunda maior folha da Série A (€ 140 milhões anuais segundo levantamento da Gazzetta dello Sport, atrás dos € 219 milhões da Juventus), mas um desempenho bastante aquém dentro de campo.

Sem rumo, as diretorias acumularam treinadores. Foram seis desde 16 de janeiro de 2014 – um a cada nove meses e alguns dias. E pode vir mais: Gattuso convive com a sombra de Antonio Conte, livre no mercado desde que deixou o Chelsea.

O que seria melhor para Paquetá? Só o tempo pode responder.

Os seis técnicos do Milan desde 2014

Treinador Jogos Dias no cargo
Seedorf 22 144
Inzaghi 40 372
Mihajlovic 37 301
Brocchi (interino) 7 78
Montella 64 514
Gattuso (atual) 43 318
Fonte: Globo Esporte