O Flamengo viveu ontem, na vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-MG, no Maracanã, seu dia mais mágico na temporada. Principalmente pela vantagem que dá ao time a possibilidade de perder por um gol de diferença, no próximo domingo, e ainda assim conquistar a Copa do Brasil. Mas também por ter sido Gabigol, principal ídolo desta geração rubro-negra, o grande nome da partida, com dois gols e participação em outro, marcado por Arrascaeta. A sinergia entre o atacante e a torcida fez uma já especial tarde no Rio de Janeiro se tornar ainda mais catártica.
Há muito por acontecer no jogo da volta, mas é possível que os rubro-negros no Maracanã se lembrem da partida de ontem como aquela em que “o Gabigol voltou”, como eles mesmos cantaram após o segundo gol do atacante, já na etapa final. Se, antes de a bola rolar, a narrativa era a de que o camisa 99 tinha apenas cinco gols em 35 partidas nesta que é sua pior temporada no Flamengo, agora o olhar é outro. São três bolas na rede nos últimos dois jogos. E mais impressionante: 16 gols em 17 finais pelo clube.
— Um jogador do nível do Gabriel, decisivo... Você não consegue ensinar um jogador a ser decisivo. Ou você tem ou você não tem. Existe um ditado que diz que “o gol se compra”. Eu concordo muito com isso. O Gabriel tem gol. Não à toa é um dos maiores artilheiros deste clube e um dos maiores artilheiros em finais. Hoje (ontem), nós vimos uma das melhores versões do Gabriel no campo. Méritos dele — elogiou o técnico Filipe Luís após o jogo.
‘Seu moleque’
As palavras do comandante rubro-negro na entrevista coletiva foram as melhores possíveis, mas as interações entre Gabigol e Filipe Luís ao longo da partida não foram sempre positivas. No primeiro tempo, quando o time vencia por 1 a 0, o treinador deu uma bronca no atacante por conta de um posicionamento errado. Em diálogo flagrado pela transmissão da TV Globo, Filipe reclamou que Gabigol estava se escondendo e pediu que ele também viesse para a ponta direita. Ao não receber a atenção do atacante, disparou: “Você me respeita, seu moleque! Vem aqui”.
No lance seguinte, o camisa 99 corrigiu o que lhe foi pedido e marcou seu primeiro gol em uma jogada “cantada” pelo treinador: aos 38 minutos, Léo Ortiz recebeu e lançou para Plata. O equatoriano raspou de cabeça, e a bola ficou com Gabigol pelo lado direito. O atacante entrou na área e, de canhota, deslocou bem o goleiro Everson para marcar o segundo do Fla. Após a confirmação do gol pelo VAR, o camisa 99 fez questão de festejar junto a Filipe.
— Estou num cargo em que tomarei decisões que deixarão alguns jogadores bravos comigo. Foi isso com o Gabriel. Era uma correção tática no campo, nervos à flor da pele, eu e ele querendo ganhar. E aí não tem conversinha, é grito. Tinha discussões assim com ele toda semana quando éramos companheiros, e agora não vai ser diferente. Mas já está resolvido. Conversamos no intervalo — explicou Filipe.
Repertório tático
Mais que o frenesi em torno de Gabigol, o segundo gol do Flamengo serviu para comprovar que, mesmo há apenas um mês sob o comando de Filipe Luís, o time já é capaz de demonstrar um vasto repertório tático. As jogadas dos dois gols do primeiro tempo se deram em lances que foram ensaiados e exigidos pelo treinador em diversos momentos da partida.
O gol de Arrascaeta, que aproveitou o rebote num chute de Gabigol para abrir o placar aos 10 minutos, saiu após boa jogada coletiva que nasceu nos pés de Gerson. Ainda no campo de defesa, o capitão sustentou a pressão do Atlético feita por Junior Alonso, que abandonou a linha de zaga, e, em ótimo passe para Wesley, quebrou a marcação. Com liberdade, o lateral-direito conduziu pelo meio e acionou Michael, que depois tocou para o camisa 99 finalizar.
Por mais que tenha contado com o erro de Alonso na pressão, é fato que o Flamengo construiu o gol numa jogada de “armadilha” que tentou montar em diversos momentos do duelo. A equipe esperava o adversário pressionar a saída de bola para, com toques rápidos e ataques aos espaços, sair com velocidade e verticalidade. A dupla Gerson e Wesley foi fundamental.
A segunda etapa, por conta do desespero do Galo para mitigar o prejuízo, foi mais aberta. Em contra-ataque de Alcaraz, Gabigol marcou belo gol ao finalizar por baixo das pernas de Lyanco.
A vantagem de 3 a 0 encaminharia o título, mas o Galo achou, aos 34 minutos, o gol que o deixa vivo na briga. Léo Ortiz falhou na entrada da área, Alan Kardec roubou a bola e fez. Saberemos no domingo se foi apenas um susto no retorno de Gabigol e na taça do Flamengo.