Análise: Flamengo volta a sofrer por não matar, e Filipe Luís erra ao fazer apenas duas trocas

O Flamengo fez um ótimo primeiro tempo em Porto Alegre, mas voltou a sofrer do problema crônico de não ser efetivo. Em português claro, o time continua com uma dificuldade grande de matar jogos. Teve a faca e o queijo na mão para abrir 2 a 0 aos 30 minutos do segundo tempo, mas não o fez.

Filipe Luís também tem sua parcela de culpa por terminar a partida com apenas duas substituições realizadas, em especial por ter deixado Gerson em campo durante todo o segundo tempo quando dava claros sinais de grande desgaste. Por outro lado, merece elogio pela formação escolhida, já que o Flamengo foi competitivo e melhor enquanto esteve em igualdade de condições físicas.

Foi um ótimo primeiro tempo, com as duas equipes buscando o gol adversário. O Inter forçava pelos lados com Wesley e Bruno Tabata, enquanto o Flamengo tinha o meio-campo como sua principal força.

Léo Ortiz começou cometendo erro grosseiro aos 10 segundos de jogo, que quase terminou em gol de Borré, mas Varela limpou sua barra com corte providencial em cima da linha. Depois disso, ele cresceria muito e participaria ativamente da construção.

Pulgar, Alcaraz, Gerson tratava muito bem a bola e levavam o Flamengo para frente, enquanto Evertton Araújo era o melhor no combate e também não se enrolava no passes laterais. Ele, aliás, conseguiu ótimo cruzamento para Bruno Henrique antecipar e cabecear com perigo.

O Flamengo usava bastante a bola longa, e Bruno Henrique saiu de frente para o gol algumas vezes. É verdade que em quatro delas ficou em impedimento, mas aos 13 minutos por pouco ele não abriu o placar de pé esquerdo.

Numa etapa em que o Flamengo foi melhor, Pulgar, Wesley e Gerson tiveram ótimas chances. A mais bonita aconteceu num belo contra-ataque puxado por Alcaraz, em que Plata ajeitou, e o Coringa chutou com perigo.

Quem também ajudava o Flamengo a ir para frente era Léo Ortiz. Aos 45, o camisa 3 deu um passe de três dedos que surpreendeu o Inter, e o Flamengo chegou com três jogadores agrupados pela esquerda. Gerson, Bruno Henrique e Alcaraz trocaram passes até Ayrton receber na esquerda e cruzou para Thiago Maia cortar com a mão. Pênalti que Alcaraz cobrou muito bem e botou merecidamente os rubro-negros na frente.

No primeiro tempo, o Flamengo foi superior em finalizações (9 a 5) e posse de bola (54%). Varela, que tomou um cartão amarelo prematuramente, foi o destaque defensivo.

Alcaraz se lamenta em Internacional x Flamengo pela grande chance perdida — Foto: Maxi Franzoi/AGIF

O Flamengo voltou do intervalo já com uma grande oportunidade do intervalo, criada por Evertton Araújo, que deixou Bruno Henrique na cara do gol, aos quatro minutos.

O time foi se perdendo no aspecto físico e, consequentemente, passou a errar mais tecnicamente. O Internacional começou a chegar mais, passou a dominar a posse de bola e a empurrar o Flamengo para o seu campo de defesa.

Apesar do crescimento do Inter, o Flamengo ainda chegava. Gerson, mesmo já dando sinais de cansaço, protagonizou linda jogada em que preferiu o chute ao passe e acabou estourando bola em cima da defesa. Apesar de ter sido fominha, não dá para negar a plasticidade da tabela com Bruno Henrique.

Conforme o Flamengo cansava, em especial Gerson, o craque do time, o Inter chegava. Mas o meio-campo e os zagueiros vinham dando conta. Os volantes Pulgar e Evertton continuavam bem, e Varela, com muita garra, cobria erros técnicos com carrinhos e bom posicionamento.

É bom destacar que Gerson já vinha perdendo a posse, algo que não é corriqueiro, porque não estava se aguentando em pé. Numa dessas perdas de bola, Alan Patrick por pouco não empatou.

Embora o jogo pendesse mais para o empate, aos 30 minutos, veio a chance de ouro. Pulgar, que fazia grande atuação com uma boa finalização e ótima arrumada para chute de Varela, descolou um lindo lançamento para Michael, que gingou e cruzou. Alcaraz, com a faca e o queijo na mão, perdeu gol na entrada da pequena área.

O argentino, tinha feito um primeiro tempo muito positivo, poderia ter chutado, como fez, mas de outra forma. Ou ter rolado para Gerson no momento em que saiu um pouco da direção da baliza adversária. Mas perdeu em mais um capítulo de falta de efetividade do Flamengo em 2024.

Depois disso, Varela salvou uma vez, Rossi foi providencial duas vezes, mas um erro capital foi cometido logo por uma das melhores figuras do Flamengo àquela altura, o jovem Evertton Araújo.

Aos 43 minutos, Evertton partia para o ataque e tinha duas opções de passe factíveis. Ou tocava para Matheus Gonçalves, que estava próximo e desmarcado. Ou se virava e recuava para Pulgar. Ainda havia uma terceira opção menos indicada que seria o passe em Bruno Henrique, acompanhado de perto por dois adversários.

Não escolheu nenhuma delas e tomou decisão inexplicável. Resolveu conduzir, e Alan Patrick o desarmou. Wanderson recebeu diante de cinco rubro-negros, com Enner Valencia disparando rumo à área frente a Fabrício Bruno e Léo Ortiz. O equatoriano ganhou as costas de Fabrício, e Ortiz saiu para tentar deixá-lo em impedimento sem sucesso e, consequentemente, não o acompanhou. Valencia saiu livre e marcou.

As três opções de passe que Evertton Araújo tinha no fim do jogo — Foto: Reprodução/Sportv

Crucificar o garoto é errado, mas ele, que fazia uma ótima partida, volta para o Rio de Janeiro com uma lição. Num momento em que a partida estava difícil e o adversário apertava, o certo era fazer justamente o que marcou sua trajetória até o momento: o simples.

Aos 49 minutos, ainda houve a chance final. Bruno Henrique, Gerson e Matheus Gonçalves puxaram um ótimo contra-ataque, mas o garoto, já perto da pequena área, errou o domínio. Teria chance de tocar para Michael ou de finalizar, mas não conseguiu.

O placar foi extremamente frustrante para um time que fez um ótimo primeiro tempo devido a boas escolhas de Filipe Luís. Talvez pudesse ter terminado a partida mais inteiro se o mesmo Filipe tivesse sacado jogadores mais cedo. Mas é bom destacar que o Flamengo enfrentou um adversário de peso, um concorrente direto por vagas no G-4 e num estádio lotado. Não foi o ideal, mas nem tampouco é imperdoável.

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Fonte: Globo Esporte