Clássicos quase sempre não combinam com a lógica. São confrontos "à parte" pela rivalidade. Mas o cenário já não é assim entre Flamengo e Vasco faz algum tempo. A vitória - de virada - por 2 a 1, no Maracanã, no último sábado, fez o Rubro-Negro garantir a classificação à final do Carioca. E não só isso. Aproveitou para consolidar uma estatística que torna o duelo apenas protocolar no calendário.
Foi a 19ª vitória do Flamengo nos últimos 32 jogos, com aproveitamento de quase 71%. Neste recorte, o Rubro-Negro perdeu apenas duas partidas - o que torna o Vasco o maior freguês entre os principais clássicos estaduais do futebol brasileiro. Os números não só ilustram a hegemonia rubro-negra, mas ajudam a explicar outro recorde: a sétima final consecutiva do Carioca.
Filipe Luís, Flamengo x Vasco — Foto: André Durão / ge
Foi com recorde de público em mais um sábado de Carnaval que Bruno Henrique brilhou. O atacante, que marcou o gol da vitória no jogo de ida, balançou a rede novamente e fez o gol de empate. Gol com um gosto diferente apesar da vítima ser a preferida. BH chegou ao seu 100º gol com a camisa do Flamengo - sendo 11 contra o Vasco. A vitória veio dos pés de Luiz Araújo, em um golaço de quem saiu do banco de reservas para decidir.
Quem parou para assistir o clássico não precisou de muito tempo para perceber a intensidade rubro-negra. Aliás, intensidade é a palavra de ordem de Filipe Luís, mesmo o time tendo uma vantagem confortável. Aos saudosistas, em certos momentos, o treinador lembra a agitação de Jorge Jesus pedindo para que os atletas não diminuam o ritmo.
— Além de qualidade técnica, o jogador tem que ter resistência. É um novo tipo de atleta. O jogo moderno pede essa intensidade. Eu peço isso. Os jogadores de frente são os que mais correm no time. Com certeza acredito que podemos manter a intensidade. Correndo certo se corre menos. Mais intenso, mas menos. Podemos evoluir, mas o nível de intensidade hoje é o sonhado quando eu cheguei aqui antes de assumir. Isso se constrói desde os treinamentos. Os jogadores dão a vida em cada treino - disse Filipe Luís após a vitória.
Time do Flamengo que começou o jogo contra o Vasco pelo Carioca — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Mas o ponto de atenção fica para os problemas físicos: Bruno Henrique deixou o gramado com dores na posterior da coxa e preocupa para a sequência do Carioca. Wesley deu claros sinais de desgaste físico com câimbras na panturrilha. Ao fim da partida, Plata admitiu o cansaço. Além deles, Danilo não foi relacionado para a partida por não estar recuperado de um incômodo muscular.
Filipe Luís não terá a semana livre para recuperar os jogadores. A primeira partida da final será já nesta quarta-feira. O adversário sai neste domingo no duelo entre Fluminense e Volta Redonda - e o Tricolor venceu o primeiro jogo por 4 a 0.
Um jogo de domínio rubro-negro
O Vasco começou a partida da mesma forma que conseguiu neutralizar o Flamengo no Nilton Santos. Mas não durou muito tempo. O time de Fábio Carille até incomodou, mas o Rubro-Negro assumiu o controle da partida - principalmente pelas movimentações de Gerson que inicialmente estava avançado, mas passou a recuar um pouco.
Apesar do controle, Flamengo teve uma chance clara nos primeiros 20 minutos. Em uma cobrança de escanteio, Arrascaeta cruzou baixinho e Varela, na primeira trave, tocou para o gol. Léo Jardim salvou em cima da linha e defesa do Vasco afastou a bola. O gol do Vasco veio logo na sequência.
Léo Pereira fez uma falta boba em Rayan e Coutinho cobrou na área. A marcação de Arrascaeta e Wesley falhou, Lucas Freitas furou e a bola sobrou para Nuno Gomes abrir o placar. Não demorou para o Flamengo reagir e o empate quase saiu na sequência com a cabeçada de Léo Ortiz em uma cobrança de escanteio bem ensaiada. As variedades de cobranças foram destaque no jogo.
Mas foi aos 34 que Bruno Henrique igualou o placar. Arrascaeta recebeu na entrada da área, chutou, mas a bola desviou e sobrou para o camisa 27. O atacante estava livre e colocou a bola no fundo da rede. O lance causou polêmica por conta da linha de impedimento. Explosão no Maracanã e uma comemoração eufórica que fez o jogador ajoelhar e agradecer no meio-campo ( veja o vídeo abaixo).
O empate foi até justo no primeiro tempo. Mas o segundo tempo ilustrou as diferenças entre as equipes. E destaque para Filipe Luís que vem demonstrando um repertório de mudanças táticas sem necessariamente mexer peças, mas que também sabe explorar as substituições. Como foi o caso quando, aos 16 minutos, BH deixou o gramado por questões físicas e Luiz Araújo foi o escolhido.
O Flamengo dosou a intensidade, mas se manteve presente no ataque e controlando a posse de bola. Parecia sempre perto da virada, mas o preciosismo no último terço fez com que algumas jogadas não fossem concluídas de forma eficiente. Mas não demorou para Luiz Araújo marcar. Com menos de dez minutos em campo, o camisa 7 acertou um belo chute de fora da área. Golaço.
gol de Luiz Araújo, Flamengo x Vasco — Foto: André Durão / ge
Defensivamente, o time de Filipe Luís pouco sofreu no segundo tempo mesmo com o Vasco precisando atacar para tentar virar o jogo. Não aconteceu. Quando foi acionado, Rossi esteve tranquilo, seguro e garantiu a classificação rubro-negra sem qualquer susto.
A verdade é que a temporada ainda não exigiu o máximo do Flamengo - foi uma classificação tranquila à final em jogos encarados como uma extensão da pré-temporada e com protocolo de rodízio para não estourar nenhum jogador. Mas o maior desafio parece já estar definido: enfrentar os problemas físicos para que eles não se tornem ainda maiores com a maratona de jogos.
O desgaste parece já rondar o Ninho do Urubu e é preciso ligar o alerta. Mas, antes da preocupação, é preciso comemorar a classificação para a sétima final seguida do estadual e chance de mais um título em apenas três meses de 2025.
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