Análise: Flamengo abre ano com Cebolinha em evidência e novidades táticas

O Flamengo abriu seu calendário de 2024 com um adversário frágil pela frente, mas as debilidades do Audax são incapazes de ofuscar a variação de repertório apresentada por Tite. Os laterais apareceram mais pelo meio, e Gabigol teve uma nova função a partir do segundo tempo.

No campo da individualidade, um nome sobrou e muito em Manaus: Everton Cebolinha.

O camisa 11 driblou, aplicou chapéu e conseguiu excelentes cruzamentos. Mostrou fôlego para atacar o fundo e na hora de fazer a recomposição, algo que Luiz Araújo, em menor destaque, também foi capaz de realizar. Cebolinha fez um bonito gol, tentou marcar em difícil voleio e infernizou a defesa adversária o tempo inteiro.

Vale insistir que o rival é muito inferior ao Flamengo , mas a atuação de Cebolinha foi um cartão de visitas de quem quer voltar a ser protagonista no Brasil e dar sequência à evolução conseguida no fim de 2023.

Everton Cebolinha foi o principal destaque no primeiro jogo do Flamengo no ano — Foto: Gilvan de Souza e Marcelo Cortes / CRF

Uma novidade que merece destaque foi a movimentação dos laterais. Varela, que ganhou a disputa com Wesley e Matheuzinho na pré-temporada, e Ayrton Lucas apareceram mais na zona central do campo. Jogador equilbrado e menos impetuoso, o uruguaio aproveitou melhor o novo posicionamento.

Flutuando entre meio e o lado direito, conseguiu fazer algumas tabelas interessantes. Uma delas iniciou o gol de Pedro. Trocou passes com Arrascaeta, acreditou na jogada e levou a bola até o fundo para inverter. Gerson recebeu e tocou para o 9 marcar o segundo do Fla.

Varela em ação em Flamengo x Audax — Foto: João Normando

Foi por dentro também que Varela marcou seu primeiro gol com a camisa do Flamengo . No início do segundo tempo, após cobrança de lateral em que seis rubro-negros fecharam pelo lado esquerdo, o uruguaio apareceu centralizado para soltar a bomba e contar com a colaboração do goleiro Leandro.

Ayrton Lucas, jogador conhecido pelas ultrapassagens em alta velocidade, apresentou maior dificuldade por ali. Em alguns momentos próximos à área tomou decisões erradas e não conseguiu ser a poderosa arma ofensiva que fora especialmente no início de 2023.

Estrutura do Flamengo ao atacar. Quase sempre um 2-3-5, com Ayrton e Varela trabalhando muitas vezes por dentro. — Foto: Rodrigo Coutinho

Se a atuação de Cebolinha merece destaque especial, é necessário elogiar a parte física do Flamengo . Antes do gol de Léo Pereira, marcado com pouco mais de um minuto de jogo, o Flamengo partiu para sufocar o Audax. E foi assim durante todo primeiro tempo. A impressão é de que os rubro-negros tabelavam com os adversários, tamanha a eficiência que apresentavam no perde e pressiona. O gol de Everton é o melhor exemplo disso.

Com o time inteiro, Arrascaeta desfilou nos únicos 45 minutos em que esteve em campo. Deu assistência, roubou bolas e participou muito ofensivamente. Pedro saiu da área para dar toques de primeira, fazer o pivô e também foi um perigo constante para o gol adversário, com seis finalizações, número também obtido por Cebolinha e Bruno Henrique. Além disso, o camisa 9 fez um belo gol de calcanhar.

Resultado: o Flamengo foi para o intervalo com 62% de bola, 3 a 0 no placar e 15 finalizações contra quatro do adversário.

O primeiro jogo e a primeira entrevista de Tite em 2024 deixaram clara uma situação: Pedro e Gabigol lutarão por uma vaga no comando do ataque, mas é possível tê-los juntos em campo. O camisa 10, porém, terá de baixar para fazer outra função e atuar como o antigo ponta de lança, por trás do centroavante.

Gabigol mostrou movimentação interessante. Caiu pelo lado esquerdo para finalizar com perigo por duas vezes, apareceu no direito para encaixar dois belos cruzamentos. E também pisou na área para sofrer um claríssimo pênalti ignorado pela arbitragem após linda tabela com Pedro, em que os dois trocaram passes de calcanhar.

Após o jogo, Tite explicou de que forma pode acomodá-los em campo:

- Como nós fizemos hoje, ele (Gabigol) atrás do Pedro e fazendo uma pressão lado a lado para que corte alguém de passe do adversário, sim. Não dá para usar Gabriel do lado e Pedro do lado, aí fica inviável. Em um modelo de tripé do meio-campo para rodar, para ter um Arrascaeta com dois da frente, nós não temos jogadores com essas características, a equipe se mudou com os dois externos, ou mais um meio-campista jogando do lado. Antes era Gerson, as vezes era a Everton Ribeiro, agora o Nico De La Cruz, ela pode ser com Victor (Hugo). Então ela se molda dessa forma.

É importante reiterar: o Audax não tem o nível técnico do Flamengo , mas o time mostrou variação de jogo, atletas disponíveis a desempenharem novas funções e variações que podem tornar a equipe de Tite dominante não apenas contra equipes inferiores.

O Flamengo vai para os Estados Unidos animado pelo que mostrou e pelo que ofereceu a apaixonados amazonenses que lotaram a Arena da Amazônia.

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Fonte: Globo Esporte