As reclamações da arbitragem por parte do Flamengo ganharam todos os holofotes em Bragança Paulista, mas houve um jogo que trouxe uma notícia ruim e outra positiva. O empate por 1 a 1, óbvio, foi o fator negativo. A boa é que, depois de algumas partidas com postura questionável, o time voltou a mostrar poder de reação dentro e fora de campo . E mais: criou, teve as melhores chances e só não venceu devido a um erro na bola aérea.
No 4-2-3-1, com Gerson pela direita, Bruno Henrique no outro lado, e De la Cruz como número 1, além de Allan e Igor Jesus à frente da zaga, o Flamengo fazia jogo equilibrado com o Bragantino nos primeiros 15 minutos. A postura era interessante, e uma roubada de bola de De la Cruz na intermediária ofensiva simbolizava bem isso. Desarmou, tocou em Pedro, que devolveu de calcanhar e devolveu. O baixinho, porém, cruzou mal. Os rubro-negros queriam jogo.
Depois do primeiro lance polêmico, o time deu uma esmorecida com a frustração de uma vantagem que teria. Aos 20 minutos, Rossi fez a ligação direta em Pedro, que dominou bonito e deixou De la Cruz com espaço para disparar em direção à área. Último homem, Luan Cândido correu em perseguição ao uruguaio e o acertou com um carrinho por trás. Cartão vermelho, e um horizonte se abria para o Rubro-Negro. O VAR interveio, e uma falta de De la Cruz em Pedro Henrique foi marcada.
A mudança de panorama atingiu o psicológico do Flamengo , que passou a ser dominado. O jogo de alta intensidade, força e aposta nas laterais do Bragantino fez com que especialmente as combinações entre Mosquera, Sasha e Gustavinho trouxessem pânico ao lado esquerdo da defesa rubro-negra. Por ali, aliás, saiu o lance do escanteio em que Pedro Henrique abriu o placar.
É importante destacar que o Flamengo perdeu a posse algumas vezes até Allan, um dos que a desperdiçou, cortar para escanteio. Na batida, Igor Jesus permitiu a antecipação de Pedro Henrique. A dupla de volantes não estava bem e foi rapidamente amarelada.
Igor tomou um cartão muito bobo aos 16 minutos. Errou ao tentar a individualidade diante de dois marcados com as costas desprotegidas. Equivocou-se novamente ao cometer falta por trás quando Allan fazia a aproximação para auxiliá-lo.
Tite acertadamente tirou Igor Jesus ainda no primeiro tempo. O garoto não escondeu o abatimento, mas o desenho do jogo não era nada favorável para sua permanência em campo. Luiz Araújo, seu substituto, daria maior agressividade ao Flamengo na etapa final.
A volta do intervalo do Flamengo foi em alta rotação. Luiz Araújo roubou bola como elemento surpresa no círculo central e tabelou com Bruno Henrique, que, no timing certo, obrigou Cleiton a fazer uma grande defesa. No rebote, Gerson cruzou com força excessiva, mas Pedro, que no primeiro tempo já descascara um abacaxi de Ayrton Lucas e para escorar e permitir uma perigosa cabeçada de De la Cruz, atirou-se na bola. Ela subiu, e Bruno Henrique emendou um voleio salvo por Eduardo Santos.
Pedro apareceu de novo aos três minutos. Na intermediária defensiva, após receber de Bruno Henrique, ligou de primeira em De la Cruz, que disparou e acertou no travessão. O Flamengo , depois de um fim de primeiro tempo desanimador, recolocava-se no jogo com bastante força ofensiva e com repertório, algo que não havia apresentado nas últimas três partidas.
Houve um momento de oscilação, principalmente na questão técnica, mas o Bragantino já não assustava mais. Até que uma nova clara oportunidade aconteceu aos 25 minutos. Bruno Henrique parou em defesaça de Cleiton após receber ótimo passe de Léo Pereira. Léo, aliás, assim como seu companheiro de zaga e xará Ortiz, não fizeram boa partida. O camisa 4, conhecido pela excelente técnica e um jogo direto bastante calibrado, errou 15 passes.
Tite mexeu, talvez um pouco tardiamente, mas bem. Colocou Viña e Lorran nas vagas de Ayrton Lucas e Allan. O time cresceu, especialmente pelo lado esquerdo e, daquela faixa de campo, nasceu um golaço do Flamengo .
Gerson roubou bola na direita, sustentou a marcação e abriu para Viña, que tocou em Bruno Henrique e fez a ultrapassagem em alta velocidade. Em vez de apostar no fundo, BH esperou a aproximação de Léo Pereira, para quem tocou a bola, e também deslocou-se num movimento de aceleração. Preferiu a diagonal do que o fundo e partiu.
Léo entregou para De la Cruz, que, como se tivesse um GPS, virou-se e lançou. Bruno dominou e tocou por baixo de Cleiton. Grande construção coletiva do Flamengo .
Depois disso, embora não tenha criado chances claras, o Flamengo não saiu do campo do Bragantino e mostrou uma luta incansável pela vitória. Depois da letargia apresentada contra Botafogo e Amazonas, o time foi vertical, apresentou soluções e falou. Dentro e fora de campo.
Independentemente da análise do VAR, a indignação mostrada por jogadores e Tite soou como uma resposta a uma torcida que exigia um time mais falante. As críticas a respeito de passividade e o "rótulo de uma equipe que não reclama de nada" não seriam nada justas para a postura do Flamengo neste sábado.
Bruno Henrique, seus companheiros, comissão técnica e até o polido Tite falaram bastante. O treinador, corriqueiramente respeitoso com o trio de arbitragem, disparou palavrões e até dirigiu-se ao círculo central para debater com Paulo Cesar Zanovelli o fato de ele não ter ido à cabine do VAR avaliar um possível pênalti de Vitinho em Luiz Araújo, aos 44 minutos do segundo tempo.
- Ele tem que olhar! Ele tem que olhar! Ele tem que olhar, c...! Ele tem que olhar, p...! - bradou Tite, endossado pelo filho e auxiliar:
- Foi pênalti pra c... - gritou Matheus Bachi.
A reclamação de Tite e de seu auxiliar faziam sentido porque PC Oliveira, especialista de arbitragem do Sportv, viu falta de Vitinho em Luiz Araújo e afirmou que o pênalti deveria ser marcado. O treinador ficou tão irritado que a diretoria, representada por Marcos Braz e Bruno Spindel, preferiu preservá-lo da tradicional coletiva pós-jogo e assumiu os microfones.
Com uma boa criação de jogadas no segundo tempo, poder de reação e indignação demonstrada pela vontade de vencer, o Flamengo se renova para a sequência na temporada. O empate obviamente não foi bom, mas a postura aguerrida foi a notícia positiva de um time que, sim, ainda precisa voltar a jogar bem, a dominar seus adversário e a lutar pelas primeiras colocações no Brasileiro e pela ponta no Grupo E da Libertadores.
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