Análise: É cedo para dizer que Flamengo de Renato Gaúcho abandonará o Brasileiro, mas diretoria precisa estar alerta

Ainda com dois jogos a menos na Série A, o Flamengo pode ver o líder Atlético-MG abrir 12 pontos de vantagem na tabela, caso vença o Fluminense nesta segunda-feira. Esse panorama, no dia seguinte a um empate insosso com o Ceará em 1 a 1, transformou o debate pós-jogo num simpósio sobre a possibilidade de Renato Gaúcho já repetir, no Rio, o itinerário das temporadas que passou em Porto Alegre, isto é, tratar o Brasileiro como um evento secundário num calendário que abriga também as retas finais da Libertadores e da Copa do Brasil (o rubro-negro está a três jogos do título na primeira e a seis na segunda).

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É útil pontuar que, até a bola rolar no Castelão, o treinador acumulava 10 vitórias nas 11 partidas desde que assumiu “o elenco de R$ 200 milhões” — quatro delas em jogos da Série A. Seu único revés, um 4 a 0 para o Inter, dera-se num jogo de desenrolar muito diferente dos que vieram antes e depois.

Ainda assim, bastou que mais dois pontos ficassem pelo caminho para que o alerta fosse ligado e as suposições entrassem em campo. Arrascaeta foi poupado por desgaste muscular: “mas será que corria mesmo o risco de 'estourar'? Não dava para descansá-lo em outro momento?”, questionam. Bruno Henrique e Willian Arão estavam suspensos: “Forçaram o terceiro cartão sem necessidade no último jogo…”, apostam. Claro, possibilidades. Além delas, somam-se as ausências de Isla, que já não enfrentara o Olimpia após sentir dores na coxa, e Thiago Maia, em quarentena pela Covid-19.

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O já mencionado histórico do treinador advoga em favor da desconfiança, mas também serve como saída fácil para explicar um resultado de campo — e que inclui outras variáveis. Já havia ficado claro, na sequência que custou o emprego de Rogério Ceni, que o Flamengo sofre quando perde seus titulares. À época, eram quatro deles convocados para suas seleções. No domingo, foram seis problemas (Gustavo Henrique começou no banco porque voltava da Covid-19, e Rodrigo Caio segue no departamento médico). E, embora teimemos em analisar resultados sob a perspectiva do protagonista, do outro lado estava um adversário que sob o comando do competente Guto Ferreira ocupa a oitava posição na Série A, mesmo tendo um elenco compatível com o terço inferior da tabela.

Ainda assim, houve oportunidades para que o rubro-negro saísse com a vitória, porque este time, mesmo em um dia ruim, pode ser letal. E a decisão de protelar as substituições — Renato fez todas as cinco a menos de 15 minutos do apito final — talvez tenha sido um indicativo de que, de fato, houve um esforço para manter os melhores jogadores em busca dos três pontos pelo maior espaço de tempo possível.

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Caso o Flamengo tivesse conseguido a vitória contra os cearenses, esta conversa não existiria, o que revela a precocidade do debate. É claro que a suspeita poderá se confirmar nas próximas rodadas, especialmente se o Atlético continuar acumulando gordura. Mas, por ora, o temor tem cara de um ansioso desejo em moldar as circunstâncias a uma narrativa já conhecida.

Independentemente dos rumos que Renato Gaúcho vislumbrar para a temporada, é fundamental que o departamento de futebol insista em lembrá-lo de que não cabe ao treinador determinar as prioridades do clube, especialmente quando elas dizem respeito ao principal torneio nacional, cuja premiação está em parte atrelada à posição na tabela e no qual o rubro-negro busca um tricampeonato inédito em sua história. Por sua pujança financeira, o Flamengo tem ambições superiores às do Grêmio e não pode deixar que sua sorte recaia sobre dois torneios decididos na imprevisibilidade do mata-mata.

Fonte: O Globo