Altitude, cansaço e gramado não apagam desconcentrações do Flamengo

Ninguém duvida que o péssimo gramado do Serra Dourada atrapalhou a circulação da bola diante do Atlético. Ou que o desgaste pela sequência faça a intensidade cair no 2º tempo de determinados jogos. Menos ainda que a altitude influencie no desempenho dos atletas. O Flamengo teve tudo isso para atrapalhar em partidas recentes, mas há algo mais preocupante em curso.

Existe muito em comum entre os 35 minutos com um homem a mais em Bogotá - com direito a empate cedido e nenhum chute no gol -; a 2ª etapa diante do Palestino na última quarta-feira; e o bisonho tempo complementar com superioridade numérica por mais de 60 minutos contra o Atlético Goianiense.

Em todos os casos citados acima o Flamengo se desligou. Perdeu ímpeto diante de resultados magros sem a menor garantia da vitória. Até quando os espaços surgiam, exemplos dos jogos contra Millonarios e Palestino, a equipe optava por desacelerar de forma burocrática, sem objetividade para construir um resultado mais confortável.

Bruno Henrique lamenta gol do Millonarios contra o Flamengo — Foto: Andres Rot/Getty Images

É difícil imaginar que seja algo orientado pela comissão técnica. A posse pela posse, sem circular rapidamente a bola, sem mover as peças de forma que as linhas de passe em progressão possam surgir. Essa não é a proposta.

Chamou muito atenção, por exemplo, a dificuldade que o Flamengo teve de entrar na defesa do Dragão durante toda a 2ª etapa neste domingo. Mesmo considerando os méritos dos goianos, não ter nenhuma tabela, triangulação, combinação, ou jogada individual que fosse, foi preocupante.

Em fase defensiva, o comportamento nocivo também tem aparecido na abordagem passiva de marcação de quem está mais perto da bola. O time se posiciona, é bem treinado para isso, mas a atitude para forçar o adversário a tocar para trás ou realizar um desarme vem faltando quando o Flamengo percebe que tem a vantagem no placar e uma situação favorável de jogo.

Chance perdida por Chamorro em Flamengo x Palestino — Foto: Reprodução

Outro sintoma aparece nas bolas paradas aéreas. Foram três finalizações cedidas desta forma em 15 minutos de 2º tempo contra o Palestino, time de média de altura baixa para os padrões brasileiros. Outras três cedidas da mesma forma ao Atlético Goianiense depois do intervalo, mesmo com um jogador a mais em campo. Algo impensável para a versão ''Flamengo focado'' já vista nesta temporada.

Sabe-se muito bem o quanto Tite valoriza e trabalha as bolas paradas defensivas e ofensivas. Basta ver a postura corporal dos jogadores em escanteios e faltas laterais dos adversários nos momentos distintos dos jogos. Com o placar sem vantagem ao Flamengo, e depois com o time rubro-negro vencendo. Tem sido nítida a disparidade.

Atlético-GO x Flamengo no Serra Dourada — Foto: Ingryd Oliveira/ACG

É óbvio que o treinador ou qualquer outro integrante da comissão técnica não externará caso pense desta forma, mas é bom reavaliar internamente esses lapsos. Já foram um padrão de comportamento de boa parte deste grupo na temporada 2023, inclusive em jogos decisivos.

Nem sempre haverá um gramado ruim, altitude, ou o cansaço para se colocar a frente de algo que pode ser controlado com atitude positiva e constante.

Fonte: Globo Esporte