"Apenas uma promessa". É assim que Arley Carvalho, advogado que representa a família de Christian Esmério, trata a intenção do Flamengo de se aproximar dos familiares das 10 vítimas do incêndio que atingiu o CT do clube há dois anos, em 8 de fevereiro. Arley explicou que os pais do goleiro só tiveram contato com a diretoria uma vez desde que Rodrigo Dunshee, vice-presidente geral e jurídico, afirmou que o clube ia rever a condução do caso - isso aconteceu em fevereiro de 2019, em depoimento na CPI dos Incêndios da Alerj.
"Na verdade, houve um contato há uns cinco e seis meses atrás e novamente a diretoria deixou a desejar. Nem responder que sim ou que não eles fizeram. Então, não, isso não aconteceu. Apenas uma promessa", afirmou o advogado.
Por outro lado, Rodrigo Dunshee, vice-presidente geral e jurídico do Flamengo, reforçou que está em contato com os familiares de Christian Esmério.
Em 23 de dezembro de 2020, o Flamengo anunciou - em nota publicada em seu site oficial - que fechou acordos com familiares de oito vítimas do Ninho: Arthur Vinicius, Athila Paixão, Bernardo Piseta, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Samuel, Pablo Henrique, Vitor Isaías e o pai de Rykelmo. Além da mãe de Rykelmo, que acionou o clube na Justiça, resta o acerto com a família de Christian Esmério.
Na ocasião, Dunshee diz ter tido uma reunião com os pais de Christian, a qual considerou "boa" e disse estarem "no caminho de uma conciliação". Arley Carvalho contrariou o VP do clube, a quem diz que pode até "ter faltado um pouco de ética", caso ele tenha feito esse contato direto com os familiares.
"Eles e nós temos advogados constituídos. O Rodrigo Dunshee é advogado, sabe quais são os trâmites. Se ele fez esse contato direto, faltou até um pouco de ética. Temos um advogado. Aproveitar da dor da família para isso não é o propósito. Mas nossos clientes são bem firmes no posicionamento dele. Enfim, não evoluiu", explicou Arley, que nega que os familiares de Christian Esmério sintam-se pressionados pelos acertos das demais famílias com o Flamengo:
"São os pais, estão muito tranquilos quanto a isso. Só fazemos o que é da vontade deles. Damos o suporte jurídico, com aquilo que sabemos lidar, mas a decisão é sempre deles. Não tem qualquer pressão de ter que aceitar ou não. Não tem pressão. A mãe do Rykelmo já judicializou, mas nós estamos aguardando o inquérito. Não entendemos essa demora. Ficamos nessa angústia, um prazo muito acima do esperado para a conclusão do inquérito.
A versão de Rodrigo Dunshee
Em novo contato com a reportagem, Rodrigo Dunshee reforçou que está, sim, em contato com a família de Christian Esmério, e, inclusive, uma nova reunião entre as partes está agendada. Por ora, segundo o VP, são "contatos informais", nos quais a questão financeira, relativa à indenização, não é abordada.
"Eu acho quem tem que falar é a família. Eu estive com o Cristiano e a esposa dele, aqui no clube (Gávea), e tenho marcado outra conversa, daqui a uma ou duas semanas, ainda não firmamos uma data concreta. Não existe processo judicial, não tenho que me pautar, sou parte, entendeu? Não estou como advogado, estou como ser humano, conversando com essas famílias. Algumas situações que eles gostariam de entender, por exemplo, eu tenho conversado com eles. Quando formos avançar para uma questão financeira, de acordo, certamente os advogados serão envolvidos e entrarão em contato com os advogados do Flamengo. Mas, neste momento, acho que ele (advogado) está desinformado e deveria se informar melhor com os clientes dele", afirmou.
O incêndio
Além de Christian Esmério, de 15 anos, o incêndio no alojamento das divisões de base do Flamengo vitimou Athila Paixão (14), Arthur Vinícius (14), Bernardo Pisetta (14), Gedson Santos (14), Jorge Eduardo Santos (15), Pablo Henrique (14), Rykelmo de Souza (16), Samuel Thomas Rosa (15), e Vitor Isaías (15).
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro denunciou Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo, e outras dez pessoas - denúncia a qual foi aceita pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) no dia 20 de janeiro.
Além do inquérito entregue pela Polícia Civil, o Ministério Público contou com as informações colhidas pela CPI dos Incêndios, que ouviu representantes do Flamengo, NHJ, Light, e Corpo de Bombeiros, entre outros órgãos responsáveis, em sessões na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, antes da pandemia do coronavírus .
Imagem: Marcelo Cortes/Flamengo