A chegada do português José Boto ao Rio de Janeiro neste final de semana para assumir o futebol do Flamengo abre, oficialmente, a temporada de 2025. E eu explico o porquê: pela primeira vez um grande clube da Série A terá um estrangeiro como executivo de sua principal pasta. Depois de jogadores, técnicos, auxiliares, analistas e preparadores, Boto, de 58 anos, abre a era da gestão europeizada do futebol brasileiro.
Uma novidade e tanto, aposta válida para um clube que começa nova era administrativa após seis anos de sucesso esportivo e financeiro em modelo associativo. Boto, profissional de carreira, técnico, analista de desempenho e gestor esportivo, forjou o crescimento em clubes cujo o futebol é gerido sob as normas da economia privada. Em linhas gerais, distante dos arroubos da política associativa.
Exemplo claro pode ser o episódio do desligamento de David Luiz. O zagueiro abriu o verbo no sábado, nos bastidores do festivo Jogo das Estrelas, organizado por Zico, no Maracanã. Queixou-se da forma como a diretoria que assume o Flamengo tratou do seu desligamento, depois de quatro anos de clube. Já é o padrão José Boto, que, registre-se, foi quem indicou o zagueiro ao Benfica por onde ele jogou entre 2007 e 2011.
Boto trabalha com autonomia de gestão e não tolera interferências políticas no departamento de futebol. Dia desses, Leonardo Miranda, que assina o “Painel Tático” no ge, lembrou de decisões arrojadas tomadas por ele no Shakhtar Donetsk levando para o clube técnicos até então desconhecidos como Roberto De Zerbi, hoje no Olympique de Marseille, e Luís Castro, que dispensa comentários.
Isso mostra, sobretudo, caráter autoral, convicção e ideias claras sobre projetos esportivos. Traços fortes de um trabalho que pode encontrar mais dificuldades para ser implementado em clubes de caráter associativo, fortemente impactados pela influência de sua torcida. Na última experiência com modelo semelhante, com Rodrigo Caetano, o desgaste deixou sequela irreversíveis na relação entre gestor e torcedores.
O sucesso de José Boto no Flamengo poderá abrir o mercado para gestores técnicos de fora. Mas precisará de paciência com clientes internos e jogo de cintura com externos. O profissionalismo só encanta quando a bola entra…