Shola celebra título pelo Flamengo, adaptação e destaca Bruno Henrique: "O 27 é alto e veloz"

Shola virou notícia no Brasil ao se tornar o primeiro africano a ser contratado pela base do Flamengo , em abril do no ano passado. No último fim de semana, ganhou as manchetes não por sua origem, mas pelo futebol de qualidade apresentado na Libertadores Sub-20. De quebra, ele abriu o placar na vitória por 2 a 1 sobre o Boca Juniors, que garantiu o título aos rubro-negros.

Se o início no Flamengo foi difícil por questões como língua, costumes e a saudade dos familiares, hoje o ponta-esquerda de 19 anos é um dos grandes orgulhos de Ifaki, cidade onde nasceu, na Nigéria.

- Eles (familiares) estão muito felizes e empolgados que estou aqui e estou indo bem. E também felizes por eu estar crescendo na minha carreira, por eu ter ganhado a Libertadores, que foi meu primeiro troféu. Eu mandei para eles as fotos e também o vídeo (do gol marcado contra o Boca).

- Meu sonho é apenas me tornar um jogador de sucesso. Todo mundo quer se tornar um jogador de sucesso, alcançar tudo. Eu quero conquistar tudo para estar nos melhores clubes do mundo. E agora estou num deles, então é bom.

Shola beija a Taça Libertadores Sub-20 — Foto: Conmebol

Shola ainda fala bem pouco o português, mas garante que já consegue se comunicar pela "linguagem universal do futebol". Apesar das dificuldades com o idioma, o básico já sai.

- Eu tento me comunicar com eles em português de qualquer forma. Acho que sei algumas palavras em português. Bom dia, boa tarde, boa noite. Tudo bem? Sim eu acho que é yes . Na língua do futebol, tem "passa bola", "valeu, valeu" é "vai, vai". Isso é tudo. É um lugar legal, um bom clube, o maior clube do Brasil, penso eu. Então estou muito feliz aqui.

Tímido, Shola, numa nítida demonstração de não querer eleger um preferido dentro do elenco profissional do Flamengo para ser o mais democrático possível, primeiramente disse que gostava de todos. Mas, com dicas e provocado a citar pelo menos um, escolheu "o camisa 27". Afinidade pela velocidade e pela faixa do campo que ocupa.

- Digo que realmente gosto de todo mundo. Eu não sei, gosto de estar no profissional. Eu acho que vou mencionar, eu esqueci (o nome). Ele usa a 27, é veloz. É alto, preto. Ele joga pela ponta e costuma correr muito. Gosto do estilo de jogo dele. Toda vez que ele joga, eu tento aprender algo com ele.

Shola confessa ter ficado muito empolgado com os treinamentos que fez junto aos profissionais. E, assim como outro inúmeros garotos da base fazem, citou a ajuda de David Luiz, um dos primeiros atletas com quem tirou fotos no Flamengo .

- Demais! Jogar com os profissionais, treinar com eles, é diferente de jogar com o sub-20. Eu tive uma boa experiência com os profissionais. Não é como treinar com meus colegas de time, é um pouco diferente.

- No meu primeiro dia com o profissional, eu estava com um pouco de medo, não sabia o que dizer. O David Luiz tentou falar comigo em inglês, então foram dias felizes. Minha melhor qualidade no campo é a velocidade. Eu lembro que no meu primeiro treino eles falaram: "Quem é esse cara?".

Shola comemora o título da Libertadores Sub-20 com o Flamengo — Foto: Conmebol

Hoje adaptado e feliz, o camisa 26 da conquista da Libertadores, fã do histórico camisa 27 do profissional, ganhou um motivo a mais para sorrir após a disputa do torneio sul-americano. Ao voltar do Uruguai, encontrou o compatriota Hassan Haruna, atacante contratado por empréstimo ao XV de Piracicaba.

Já se referindo a Haruna como "irmão de sangue", Shola tem uma afinidade em especial com o outro africano do Flamengo . Ambos pertencem à etnia Iorubá, uma das mais importantes do continente onde nasceram. Se comunicam no idioma que dá nome ao grupo e já moram juntos.

- Eu moro com o meu irmão Hassan Haruna. Quando eu cheguei no Brasil, eu não estava feliz. Agora eu estou feliz porque encontrei um irmão da Nigéria. Nós entendemos o outro, falamos a mesma língua, nos comunicamos no inglês e no Iorubá. E a gente mora junto. Eu estou feliz que fiz tudo no Flamengo . Eu fui o primeiro jogar africano a jogar na base do Flamengo , a fazer gol pelo Flamengo e a jogar uma partida oficial pelo Flamengo . Eu estou muito feliz que o Flamengo olha para isso e tenta trazer um jogador africano para o time.

- Isso valoriza a África. É algo do qual devemos ter orgulho. Eu estou muito, muito feliz. Agora eu vivo confortável, eu sorrio muito. Porque antes eu não estava acostumado a sorrir. Quando meu irmão vem para o centro de treinamento, a gente conversa e faz tudo junto. É um irmão de sangue.

Nem sempre foi assim. No início, sentia-se um estranho no Ninho, e entendia os olhares desconfiados justamente por não o conhecerem.

- Às vezes, quando eu vinha para o centro de treinamento, eu não me sentia confortável para me mover para qualquer lugar. Eu tinha um pouco de medo de ir para o refeitório, para a academia ou para o apartamento. Penso que talvez seja porque eu nunca tinha jogado antes no Flamengo . E as pessoas estavam me olhando e diziam: "Ok, eu nunca vi esse garoto jogando futebol". E quando mostrei minhas habilidades na Libertadores, eles pensaram: "Nossa, esse garoto tem talento". Então eu aprecio tudo agora, estou mais confortável do que antes.

Deixaram o menino jogar, e o Flamengo colhe frutos com o ensaboado Shola, nigeriano que é vanguarda na história preta e vermelha.

Shola comemora com Carbone o primeiro gol do Flamengo contra o Boca na final da Libertadores Sub-20 — Foto: Conmebol

*Colaborou Fred Gomes

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Fonte: Globo Esporte