Com sal grosso e sem luz: Copa bem do Brasil

Essa pergunta não me sai da cabeça desde 2016, desde 2018, desde o dia 2 de outubro deste ano e deste ontem à noite, depois do empate por 0 a 0 entre Corinthians e Flamengo, pela Copa do Brasil.

Não se preocupem, não vou falar de eleições agora. Ufa.

Para o primeiro jogo da grande final do seu torneio mais milionário, a CBF recebeu um convidado ilustre: o presidente da FIFA, Gianni Infantino. Ilustre, digo, pelo poder que representa no comando da entidade que tanto influencia o esporte.

O suíço-italiano entrou em campo junto com o presidente Ednaldo Rodrigues, carregando a taça que seria subsequentemente entregue ao lateral esquerdo Juan e a Vampeta. Vampeta, que normalmente já dispensaria apresentações, dispensou novamente o protocolo, depositando um terço sobre as cores do Corinthians, e despejando água benta e sal grosso sobre o caneco.

Curioso. Simpático. Inusitado. Sui generis. Fofo. Meio bizarro. Peculiar. Bem brasileiro.

Fiquei pensando o que Gianni achou do episódio. Gianni e os poucos gringos que acompanham nossos campeonatos.

Até aí, só uma pitadinha de Brasil mesmo.

Nada de impressionante na festa pré jogo, mas o futebol não se dá muito com mega eventos mesmo. Umas bandeirinhas, umas luzes e bola que rola, que é pra isso que a gente veio.

Um jogo truncado, depois mais aberto, com boas chances para ambos os lados, um lance de pênalti polêmico, umas reclamações, tudo normal para um clássico desse tamanho, com os times de maior torcida do país.

O problema, amigas e amigos, chegou para valer quase no apagar das luzes. Bom, chegou com o apagar das luzes, se me permitem a piada infame. Aos 44 do segundo tempo, parte dos refletores da Neo Química Arena se despediu do evento e deixou o gol de Cássio na penumbra. Partida paralisada por alguns minutos, e daí?

Final do torneio com maior premiação do futebol brasileiro, em estádio de Copa do Mundo, na maior cidade do país.

Não pode. Com ou sem presidente da FIFA no recinto, não pode.

Bandeirinha, sal grosso, água benta, Vampeta. Vá lá. Mas faltar luz não pode. É feio. Pega mal. Coisa de amador.

Talvez seja o momento de dizer que não estou tentando diminuir o valor da Copa do Brasil, de forma alguma. Além da importância histórica, tem 60 milhões para o campeão e vaga na Libertadores. Vale muito.

E é justamente aí que reside o problema de deixar que cenas "pitorescas" roubem um espetáculo dessa magnitude, no país do penta. A gente não avança. A gente fica para sempre no lugar da "beleza exótica". Do eterno país do futuro que não chega.

Talvez seja o nosso lugar, não sei. Talvez organização e eficiência não pertençam plenamente ao nosso ethos. Talvez. Mas não consigo deixar de imaginar um Brasil melhor, onde não falte luz. Nem segurança. Nem educação. Nem comida.

Me deixem sonhar um pouco.

Imagem: Reprodução/SporTV

Fonte: Uol