CBF se blinda de crise e amplia ganhos com patrocínios em "um Flamengo"; entenda

A crise financeira no país e no futebol passou longe dos cofres da CBF. Com faturamento recorde, a entidade registrou em 2016 um salto de 21% nos ganhos patrocínios: de R$ 339,6 milhões para R$ 411 milhões. Apenas o valor do aumento, de R$ 71,4 milhões, é maior do que todo o montante arrecadado pelo Flamengo com patrocínios no ano passado, que foi R$ 66,3. Os números estão no balanço financeiro da CBF, que foi aprovado na última terça-feira em assembleia com representantes de todas as federações e divulgado, na íntegra, nesta segunda.

A crise institucional no futebol mundial, com investigações e prisões de vários dirigentes – incluindo o ex-presidente da CBF, José Maria Marin –, não teve grande impacto nas finanças da entidade. Ao contrário da Fifa, que registrou prejuízo de US$ 369 milhões, o órgão regulador do futebol no Brasil apresentou um resultado surpreendente, que lhe permitiu aumentar em 15% o investimento nas suas seleções e nas competições. Para o especialista em gestão esportiva da BDO Brazil, Pedro Daniel, há um motivo principal para tal panorama: a seleção brasileira.

– A confederação é a dona do produto mais valorizado, que é seleção. É um produto internacional e que vende no mundo inteiro. Estamos falando de 411 milhões em patrocínio. Isso é receita total de um clube grande. É óbvio que o mercado está em recessão, mas ainda assim mostra que a camisa do futebol brasileiro é muito valorizada. O patrocínio cresceu de 340 milhões para 411. É mais do que a receita de patrocínio do Flamengo. Eles cresceram um Flamengo – detalha Pedro.

Os patrocínios obtidos com a Seleção representam quase 70% de todos os ganhos da CBF. Em 2009, a entidade faturava R$ 164,9 milhões com publicidade. O valor teve um aumento de 164% desde então. No período, o maior salto foi de 2013 para 2014, quando cresceu 29% – de R$ 278,1 milhões para R$ 359,4 milhões –, impulsionado pela Copa. Em 2016, o bom momento da equipe comandada por Tite ajudou.

– A CBF se blindou da crise, mas o ponto é por que se blindou. Tem um produto que é extremamente vendável. Não precisa de uma enorme estratégia comercial para vender esse produto, que é a seleção brasileira. Eu imaginava que a receita não cresceria tanto. De 2014 para 2015 não cresceu por causa da Copa. Imaginei que o crescimento seria mais à médio prazo. Mas voltou a crescer. O que é bom, ainda mais com a questão do campo. O time voltou a ter brilho, e qualquer marca gosta disso. É muito propício para bons negócios – analisa Pedro Daniel.

Alto investimento explica menor lucro desde 2007

O enorme faturamento permitiu à CBF aumentar em 14% o seu investimento nas seleções e campeonatos que organiza: de R$ 422 milhões para R$ 480 milhões. Nesse quesito, chama atenção o incremento no valor gastos nas seleções de base e femininas. Em dois anos, a entidade mais que dobrou as despesas em tais setores: passou de R$ 22,7 milhões para R$ 48,7 milhões, um aumento de 113%. Ao mesmo tempo, reduziu as despesas administrativas e pessoais em quase R$ 58 milhões. O número indica um bom caminho para a CBF, segundo o analista Pedro Daniel.

– Em resumo, a CBF teve crescimento interessante de receita e com isso um aumento do investimento no fomento ao futebol. É a sinalização positiva para o mercado. Um ponto fundamental, está transmitindo que está investindo na base, no futebol feminino. As empresas querem se aliar a essa marca. A gestão está evoluindo. Não foram as despesas administrativas que diminuíram o superávit, e sim o investimento em futebol.

"A CBF se blindou da crise, mas o ponto é por que se blindou. Tem um produto que é extremamente vendável. Não precisa de uma enorme estratégia comercial para vender esse produto, que é a seleção brasileira", Pedro Daniel, especialista em gestão esportiva

O aumento nos gastos com seleções e nos torneios que organiza ajuda a entender a queda no lucro. A CBF registrou R$ 43,7 milhões de superávit, o menor valor desde 2007, de acordo com o estudo da BDO. No entanto, o resultado não é preocupante. O lucro acumulado nos últimos oito anos é de R$ 506,8 milhões. A expectativa é de números maiores em 2017.

– É o menor lucro desde 2007. Foi aumento de despesas operacionais do futebol. O conceito de empresa privada é valorizar o ativo, mas a CBF tem caráter social. E seus resultados indicam que está investindo em seu principal produto, que é o futebol – define Pedro.

Fonte: Globo Esporte