Análise: Por que o Flamengo passa a sensação de que nenhum técnico dá certo?

Parece que já virou rotina: em algum momento da temporada, o Flamengo vai estar em crise com seu treinador. Foi o que aconteceu com todos os oito técnicos que comandaram o rubro-negro desde a saída de Jorge Jesus em 2020, incluindo Tite. Depois de um começo promissor, em que prezava pelo equilíbrio e conseguiu conquistar os primeiros objetivos traçados pela diretoria (a vaga na Libertadores e o título do Campeonato Carioca), o gaúcho de 62 anos se vê dentro da tradicional panela de pressão rubro-negra por conta da sequência ruim de resultados e desempenhos.

Vale dizer que Tite tem, sim, sua parcela de culpa pelas críticas que vem sofrendo. Mais do que só resultados, o Flamengo tem tido atuações coletivas e individuais bem abaixo da expectativa diante do elenco que tem, e muito disso se dá por conta da inexplicável intransigência do treinador em relação a um modelo de jogo que não tem dado certo na equipe desde fevereiro. No entanto, o padrão no cenário vivido por todos os antecessores de Tite mostra que, mais do que algo pontual, o Flamengo tem um problema crônico que vem dos responsáveis por tomar decisões e comandar o planejamento do clube.

Desde o ano mágico que viveu em 2019, quando conquistou o Campeonato Brasileiro e a Libertadores com Jorge Jesus, a diretoria do Flamengo passa a impressão de que não entendeu, até agora, por que e como conseguiu conquistar tais títulos. É claro que o enorme poderio financeiro, o qual a atual gestão tem muitos méritos, foi preponderante. Mas, no que diz respeito ao campo e bola, não há clareza nas diretrizes que a cúpula de futebol do clube pretende instaurar no DNA da equipe e no modelo de jogo, o que passa pela contratação de jogadores com características específicas e de treinadores que dialoguem com tais perfis.

Após a saída de Jorge Jesus, não houve praticamente nenhuma indicação por parte da direção rubro-negra de que seria buscado um treinador que tivesse um estilo de jogo semelhante com aquele que havia dado tão certo, ou que pelo menos dialogava com as características de jogo do elenco. Quando houve algo próximo disso, com Rogério Ceni, Renato Gaúcho ou Dorival Júnior— em comum, por exemplo, todos utilizavam mais meias em um time mais aproximado, com maior qualidade na troca de passes —, faltou quem pudesse realizar uma análise "tática", fria funcional, sem pensar tanto na pressão externa, do que poderia faltar para a equipe nos momentos de maior instabilidade. Faltou convicção nas próprias escolhas.

No caso de Dorival, ainda mais específico, não foi só esse o problema. A saída do treinador, talvez o maior erro esportivo da atual gestão de Rodolfo Landim, se deu porque, mesmo campeão da Copa do Brasil e da Libertadores com a melhor campanha da história da competição, criou-se a ideia de que Dorival não havia disputado o Brasileiro com a prioridade que deveria. Assim, buscaram Vitor Pereira com o objetivo de que o rubro-negro finalmente pudesse criar uma hegemonia e brigar pelos três principais títulos da temporada. Acontece que, sem encontrar um encaixe tático no time, com o fracasso no Mundial de Clubes e o vice estadual, o português durou apenas 18 jogos.

Tite, já em 2024, ciente de todo esse histórico, afirmou que seria "humanamente impossível" brigar 100% pelas três frentes. Ainda assim, com discursos científicos embasados pela diretoria, satisfeita com a prioridade dada ao Campeonato Carioca, como lhe fora pedido, o treinador começou a derrapar no início das principais competições do ano. Agora, mais uma vez, enquanto a equipe se encontra num limbo tático e técnico, há a sensação de que não existe, na cúpula de futebol do Flamengo, quem possa fazer uma análise junto do técnico de que o modelo de jogo praticado não tem funcionado.

Assim, Tite tenta se encontrar no rubro-negro junto de sua comissão técnica enquanto a diretoria espera melhores resultados e começa a ouvir, da mesma maneira que aconteceu com os antecessores do atual treinador, os ruídos em relação a uma troca aumentarem. Resta saber se Tite conseguirá reverter o cenário, ou se o futuro do Flamengo repetirá o passado mais uma vez.

Fonte: O Globo